Em Cabo Verde, o Conselho das Finanças Públicas emitiu um parecer sobre o Orçamento Geral do Estado de 2025 em que avisa que o êxodo de mão de obra qualificada já começa a afetar a economia, especialmente os setores da construção civil e do turismo.
Apesar da aposta na formação profissional do Governo nos últimos anos, os baixos salários praticados e deficientes condições de trabalho têm levado muitos jovens qualificados, a emigrar com incidência para Portugal.
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O Instituto Nacional de Estatísticas vai realizar brevemente um estudo para conhecer números, mas os efeitos são visíveis.
Empresários queixam-se de défice no financiamento visando aumentar o volume de negócios e assegurar melhorias salariais, enquanto economista Avelino Bonifácio advoga tomada de medidas eficazes que permitam a retenção de quadros.
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Braz de Andrade, empresário no ramo da hotelaria, diz que enquanto não forem criadas condições que visam melhorar o acesso aos pontos de interesse turístico, disponibilidade ao financiamento por parte das empresas, fica difícil reter os quadros qualificados no país.
“Se não houver uma política acertada das instituições para termos de estradas, eletricidade, água e termos mesmo condições para dar uma atenção especial ao turismo, não há como termos rendimentos para dividir e pagar em condições aos funcionários”, aponta Andrade, que reclama a “injecao de mais dinheiro sobretudo no momento em que se nota uma grande presença dos chineses na forte concorrência com os nacionais”.
O empresário adianta que "nem temos um banco para nos dar a devida atençao… eu com dinheiro não tenho medo dos chineses, libaneses ou de outra nacionalidade… agora sem dinheiro a gente não consegue fazer negócios e até para dar uma vida melhor aos nossos colaboradores”.
Por sua vez, Jacinto Tavares, que atua na imobiliária e construção civil, está muito preocupado com o cenário da falta de profissionais com qualidade, daí pensar mesmo na possibilidade de se recorrer ao mercado da CEDEAO .
“Temos que melhorar as condições salariais, o ambiente de trabalho que permitem os jovens fixar-se porque, caso contrário, continuaremos a perder a classe profissional… neste momento o país tem tido uma boa procura nos investimentos externos e internos… ultimamente no ramo da construção civil vimos edificando obras e não há classe profissional suficiente”, afirma Tavares.
Para o economista Avelino Bonifácio, a situação que leva os quadros a saírem não se resume apenas no maior salário que vão usufruir no estrangeiro, mas sobretudo porque conseguem melhor margem de manobra para fazer alguma poupança.
Nessa perspetiva, ele advoga a tomada de medidas que permitam o reforço das condições profissionais, salariais e sociais aqui no país.
“Tem saido precisamente os quadros melhor formados e com mais experiências e isso deixa a economia nacional em má situação... eu acredito que ainda mais do que na hotelaria e turismo, o setor da construção civil é aquele que tem sofrido mais com a saída da mão de obra, porque emprega um leque muito amplo de especialidades que juntas conseguem assegurar uma boa qualidade da obra”, anota Bonifácio.
Aquele antigo ministro, avança não ser contra uma boa política de formação a pensar no mercado global, "mas não podemos é ser investidores para outros colherem o produto do investimento que nós fazemos com tanto esforço”.