Os cabo-verdianos vão a votos neste domingo, 1 de dezembro, para eleger os seus eleitos municipais, 32 anos depois das primeiras eleições autárquicas.
Eleitores e eleitos consideram que o poder local teve ganhos, mas há desafios, entre eles a autonomia financeira, melhores serviços e compromissos dos eleitos a programas de longo.
Adilton Agues entende que a nível local deve-se imprimir dinâmicas próprias no sentido de reforçar o processo de desenvolvimento e não se ficar apenas à espera dos apoios do Governo central.
"Penso que o Estado acaba por interferir no desenvolvimento local desses pequenos municípios que não possuem outras formas de financiamento…. Penso que quem está a lidar com esses municípios deve ter a mentalidade de não ficar apenas a tomar, mas também criar alternativas e políticas próprias para que a sua autarquia não fique dependente apenas do orçamento do Estado", sublinha Agues.
Ana Cabral, natural do interior da ilha de Santiago, mas que vive na cidade da Praia, diz que a maior parte dos municípios vive praticamente na dependência das verbas disponibilizadas pelo Estado, mas reconhece a dinâmica local imprimida por algumas autarquias.
"Algumas câmaras têm parcerias com outras instituições e não dependem só do Governo para trabalhar… fazem muitas coisas a nível de infraestruturas, apoios às famílias mais vulneráveis, reabilitação de casas e estradas municipais", sustenta Cabral.
Por sua vez, Gisela Barros considera que, de forma global, a ação dos poderes locais instalados democraticamente a partir de 1991, tem sido positiva na vida dos munícipes.
No entanto, ela advoga mais e melhor rigor na gestão da coisa pública.
"Noto que nalguns municípios há alguma dinâmica, mas penso que poderia ser melhor, com mais força e melhor gestão dos recursos públicos e menos gastar o dinheiro do povo… pessoas que não conseguem ter uma panela ao lume, uma refeição para dar ao filho que vai `a escola… penso que sim devem gerir melhor", afirma
Pelo papel que o poder local desempenha no dia a dia das pessoas, Júlio Correia, antigo autarca e governante, afirma que se deve assumir compromissos mais sólidos numa perspetiva de longo prazo e não o imediatismo com propósitos apenas de caçar votos e interesses outros.
Neste particular, adianta Correia, os dois principais partidos, o MpD e o PAICV que alternam a governação do país, são chamados a ter maior responsabilidade na definição de políticas consistentes para a efetiva consolidação das autarquias.
"Os partidos políticos só não fazem bem quando estão todos por aquela lógica de curto prazo… veja a grande mobilização e as grandes promessas que nos períodos eleitorais acontece, mas não devia ser assim, devia-se olhar para o poder local a todo e qualquer tempo como um poder forte… portant,o não se trata de uma questão do poder local se livrar dos partidos políticos, mas estes terem outro comportamento em relação ao municipalismo", afirma Correia, que no entanto defende uma maior dinâmica e crescimento da cidadania na vida do arquipélago.
Dois partidos, MpD e PAICV, concorrem nos 22 municípios, outros três partidos e cinco grupos de cidadãos independentes o fazem de determinados conselhos.
Na atualidade, o MpD gere 14 câmaras municipais e o PAICV, oito.