O grupo terrorista associado ao Estado Islâmico atacou, pela terceira vez, este mês, a aldeia Nova Zambézia, em Macomia, distrito de Cabo Delgado, e decapitou três homens no sábado (15), contaram à VOA, hoje (17), sobreviventes e testemunhas.
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Os rebeldes decapitaram os três homens e forçaram as esposas a carregarem cada uma a respetiva cabeça e a apresentarem as autoridades distritais.
O ataque, o terceiro na mesma aldeia em duas semanas, aconteceu nas matas próximas à aldeia, onde está refugiada a maioria da população.
Veja Também HRW: Conflito em Cabo Delgado exacerba abuso dos direitos humanos em Moçambique“Eram nove horas da manhã quando decapitaram as três pessoas”, contou à VOA Fatine Ismael, um sobrevivente do ataque, acrescentando que o grupo ficou dividido e discutiu por várias horas a decisão de matar os civis.
Ismael, que viu tudo a partir de um esconderijo, contou que “na Nova Zambézia, a maioria da população está nas matas. Quando (os terroristas) chegaram, de surpresa, naquele lugar encontraram seis pessoas (três casais), e antes de decapitar os homens, queriam indicações sobre a outra aldeia”.
Um outro morador, que pediu o anonimato, contou que depois da “agitação” provocada por ataques anteriores, a população se refugiou proximidades, e “agora eles (terroristas) perseguem nas machambas para para decapitar”.
“Este mês, o distrito voltou a viver um clima de insegurança que se assemelha ao início dos ataques”, disse.
Após se aperceberem do ataque, os militares de Moçambique e África do Sul, prosseguiu Ismael, chegaram a seguir as pistas do grupo.
A Polícia em Cabo Delgado não respondeu ao nosso pedido de comentário.
Ataques de guerrilha
Para Raúl Domingos, o politico e antigo guerrilheiro da Renamo, a nova escalada de violência, nos distritos a norte de Cabo Delgado, já era previsível, após a ocupação das suas bases pela tropa conjunta, e por os rebeldes estarem a recorrer à táctica de guerrilha.
Veja Também Moçambique: Guerra em Cabo Delgado pode ser insustentável“É preciso perceber que os grupos de insurgentes ou terroristas estão a usar tácticas de guerrilha (…) e quando tem uma implantação interna, isto é, tem apoio da população é difícil eliminá-la”, disse Domingos.
O também presidente do Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD), entende que existe um segmento da população que está a dar “informações e cobertura à força terrorista”, que agora se desdobrou em grupos pequenos e abriu novas frentes, como a de Niassa, para confundir a tropa que os desalojou das duas bases importantes.
“Este terrorismo está directamente associado ao gás e ao tráfico de drogas” disse Raúl Domingos, afiançando que é preciso repensar a forma de actuação para “atacar as causas internas e externas” do conflito”.
Veja Também SADC renova missão da força em Moçambique, sem indicar por quanto tempoOs chefes de Estado dos países da Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral (SADC) concordaram, na cimeira realizada a 12 de Janeiro, estender pela segunda vez, e por mais três meses, a presença de tropas em Moçambique para ajudar a combater a insurgência ligada ao Estado Islâmico.
Desde 2017, os ataques de terroristas concentrados no norte de Cabo Delgado causaram a morte de, pelo menos, 3100 mortes, e colocaram 850 mil pessoas na condição de deslocados internos, que enfrentam dificuldades de acomodação e alimentação.
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