As declarações do Presidente moçambicano, Filipe Nyusi no encontro com embaixadores em Maputo, não acolhem consenso entre analistas, uns considerando que não foram de bom tom e outros afirmando que o Chefe de Estado teve como base as informações que tem relativamente à intervenção internacional no conflito em Cabo Delgado.
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O Presidente Nyusi considerou "injustas" afirmações de "alguns círculos" de que o país tem recusado apoio para o combate aos grupos armados que actuam na província de Cabo Delgado, sustentando que estão em curso acções de cooperação com vários países na luta contra a violência, realçando, no entanto, que Moçambique não precisa de meninos de recados.
O político José Manteigas, da Renamo, diz que isso não constitui verdade, porque "por argumentos pouco defensáveis, se recusou a aceitar esse apoio, e quando estão a morrer cidadãos às centenas se não aos milhares, nós achamos que o Estado moçambicano devia, muito cedo, ter aceite a abertura da comunidade internacional e pessoas de boa fé que quiseram ajudar a travar esta onda de assassinatos"
Por seu turno, o investigador João Feijó diz que o Governo continua não muito aberto à ajuda internacional, e nega alegações de que a Troika da SADC adiou uma reunião sobre a situação em Cabo Delgado.
Referiu que "o que foi feito foi um arranjo para disfarçar a falta de vontade política por parte do Governo de Moçambique para aceitar uma proposta da SADC sobre a situação em Cabo Delgado".
Entretanto, o analista Fernando Mbanze diz que face ao recrudescimento dos ataques, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação já havia manifestado abertura ao apoio internacional, sobretudo para a capacitação das forças de defesa e segurança.
Para Mbanze, "há, provavelmente, informações nos corredores que estão a ser feitos sobre a situação em Cabo Delgado que nós não conhecemos e quando o Presidente da República veio dizer que o país não precisa de meninos de recados é que, eventualmente, esteja a perceber que existem muitos interesses, alguns dos quais podem não ser genuínos em termos de resolução do problema no norte de Moçambique".
Modernização do exército
O chefe de Estado destacou o imperativo da capacitação e modernização das Forças de Defesa e Segurança (FDS) para estarem à altura dos desafios à soberania nacional.
"A defesa da nossa pátria e soberania irá se tornar sustentável e duradoura, capacitando e modernizando as Forças de Defesa e Segurança, porque os apoios [externos] nunca serão para sempre", declarou.
Filipe Nyusi assegurou que o Estado moçambicano não vai permitir que o seu território se torne num "santuário do terrorismo", prometendo todo o empenho necessário para o combate aos grupos armados.
O Presidente moçambicano considerou prioritária a assistência humanitária aos deslocados e vítimas da guerra em Cabo Delgado, através da prestação de apoios que permitam a sobrevivência aos afetados.
"A nossa maior lamentação, em todas as incursões terroristas, tem sido a perda de vidas humanas. Economia e negócios, sim, mas, em primeiro lugar, a vida humana", destacou.
Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017. Os ataques têm sido reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico. A violência já provocou mais de 2.500 mortes e a fuga de cerca de 800 mil pessoas.