O presidente moçambicano, Filipe Nyusi, concedeu, na terça-feira (20), uma espécie de indulto a 64 pessoas suspeitas de terrorismo, e pediu à população no sentido de perdoar profundamente os que abandonam as fileiras de grupos armados em Cabo Delgado, província rica em gás e alvo de ataques terroristas há cinco anos.
Nyusi apresentou, durante um comício popular na cidade de Pemba, a capital de Cabo Delgado, 22 desses suspeitos e assegurou amnistia para crianças, mulheres e homens forçados a integrar as fileiras dos terroristas e que pretendam abandonar.
“Vim libertar os nossos irmãos”, precisou Nyusi, no início do comício, após entoar canções revolucionárias que alertavam para a intensidade do fogo contra o inimigo.
Veja Também Cabo Delgado: MDM defende o diálogo como forma de eliminar o terrorismo“Em Mocímboa da Praia, apresentei 42 pessoas. Aqui em Pemba estão 22 pessoas, mas também temos em Palma, temos em todo lado, isso aqui é o que queremos, voltar e se juntar a nós, não haver aquela coisa de discriminação”, disse Nyusi, realçando que muitos foram instrumentalizados.
Guerra estranha
O estadista moçambicano disse que grupos armados estão a encontrar dificuldades em continuar a recrutar jovens em Cabo delgado, porque “há alguma consciência de jovens de Cabo Delgado que já não aderem” ao terrorismo, incluindo em Mocímboa da Praia, Panganhe, Quissanga e Quiterajo, regiões que mais combatentes forneceram aos grupos armados.
Nyusi explicou que “o fogo continua intenso e o inimigo não se rendeu”, estando a ser perseguido e a se espalhar para outras regiões, insistindo, contudo, que “essa guerra de terrorismo é uma coisa estranha”.
Dirigindo-se aos desertores, Nyusi adiantou que “os vossos colegas lá de Mocímboa da Praia disseram onde estão os outros 15 que querem voltar, então vocês têm que contribuir e colaborar e nos dizer onde estão” , reforçando o pedido para que a população não os considere de inimigos.
Veja Também Ramaphosa menciona insurgência em Moçambique em encontro com Biden“Aquele que foi conscientemente e que se voluntariou, e sente que está arrependido, esse pode voltar, aquele que foi levado compulsivamente - crianças, mulheres - para servir de escudo também devem voltar, quando voltarem estimados compatriotas, são nossos irmãos, formatados pelos terroristas, vamos receber com duas mãos”, concluiu Nyusi.
Evitar a intolerância
O analista moçambicano Samuel Simango observa que a medida do presidente é adequada ao momento, mas deve ser acompanhada com outras estratégias, porque pelas experiências as deserções nas lutas anteriores não pararam as guerras.
“Toda a medida que transmita uma pacificação é boa, e isso transmite confiança de que quando as pessoas quando voltam ao convívio, nas aldeias, elas estão aceites e perdoadas", frisou Simango.
“Mas estes tipos de movimentos não são recentes. Nós nos lembramos mesmo durante a luta de libertação nacional, mesmo na guerra civil havia indivíduos que eram apresentados como estando a abandonar a luta, mas a luta não parou”, vincou.
Por outro lado, o também professor universitário entende que os desertores vivem uma situação delicada de insegurança, daí ser preciso adoptar medidas apropriadas, para evitar “certas intolerâncias”, por parte das forças de defesa e segurança e ou dos líderes comunitários onde estarão inseridos os desertores.
Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações, e foram registadas quatro mil mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED.
Your browser doesn’t support HTML5