As experiências globais e continentais indicam que as operações militares por si só não resolvem conflitos extremistas violentos, particularmente quando o são impulsionados por privações socioeconómicas, marginalização étnica e frustrações intrarreligiosas, e influenciadso por uma governação fraca, comércio ilícito e ideologia radical como é o caso em Cabo Delgado, em Moçambique.
Esta constatação serve de base a um relatório sobre Resolução de Conflito em Cabo Delgado apresentado nesta quinta-feira, 5, pelo Centro de Democracia e Desenvolvimento (CDD) em Maputo, que aponta o diálogo inclusivo como a solução eficaz para o fim do conflito.
“Não se vai resolver o conflito apenas com estratégia militar, pelo que o diálogo se impõe e deve ser inclusivo com participação de todos”, começou por dizer Adriano Nuvunga, director do CDD, para depois acrescentar que “muitos dizem que não se pode dialogar com quem não tenha rosto, o que nós dissemos é que é possível dialogar, é possível começar o diálogo a partir de um atendimento sério, transparente e inclusivo dos vários problemas que nos conduziram para aonde nós estamos”.
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Para o sociólogo João Feijó o diálogo é de todo pertinente para encontrar soluções para o conflito naquela região, sobretudo porque os jovens viram as suas expectativas de desenvolvimento frustradas o que levou a alguns a radicalizar-se.
“A coexistência do fenómeno pobreza passará a coexistir com uma emergente sociedade de consumo e isto e explosivo, torna estes jovens facilmente vulneráveis para aderirem a grupos violentes que que tem muito dinheiro”, acrescenta Feijó.
Noutra dimensão complementar, o investigador Borges Nhamirre diz ser “importante abordarmos a questão da radicalização em Cabo Delgado, sabendo que é um assunto sensível porque toca as nossa crenças, mas é uma realidade de que houve radicalização que não começou hoje e não começou em 2017”.
O Governo, por seu lado, reconhece a necessidade de diálogo com todos os extractos da sociedade afectados pelo conflito, porém João Machatine, da Agência de Desenvolvimento do Norte (ADIN) aponta para a complexidade do conflito como um dos entraves para a implementação de algumas soluções apontadas no relatório.
“A situação é complexa porque as causas que tem sido abordados tem captado atenções e diversos quadrantes e nós como Agência Desenvolvimento Integrado do Norte tendo recebido frequentemente está pergunta estamos agora num processo de fazermos uma análise para vermos exactamente este diálogo seria com quem?, questionou João Machatine.
O relatório engloba uma visão diferenciada sobre o extremismo violento no norte de Moçambique e sul da Tanzânia, as lições aprendidas com as sessões de diálogo entre múltiplos intervenientes conduzidas em Pemba em 2021, e passos vitais para a resolução de conflitos e o alcance de uma paz sustentável.