Um grupo de insurgentes ocupou e controla desde a madrugada de domingo, 3, a ilha Quirimba, a mais importante do arquipélago de 30 ilhas corais, tornando-se na segunda vila tomada este ano pelos rebeldes, ligados ao Estado Islâmico, na província moçambicana de Cabo Delgado, disseram à Voz da América vários moradores locais.
No sábado, 2, os insurgentes invadiram e vandaliazarm a sede de Quissanga, o que foi confirmado pelo próprio Presidente Filipe Nyusi no fim da sua visita a Argélia.
Várias famílias estão em esconderijos e em desespero devido à insegurança.
Há relatos da morte de dois agentes das Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicana, o que provocou uma agitação na ilha de Ibo, que nunca tinha sido atacada desde o início da insurgência armada em 2017.
“Esses al-shaabab (nome com que são conhecidos os rebeldes sem ligação com o grupo que atua na Somália), estão a dar ordens para ninguém sair dentro de casa e estão a fazer vigilância. Os terroristas estão em Quirimba”, afirmou Mohamed Abdala, um morador local, em declarações por telefone à Voz da América.
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Outro morador explicou que os rebeldes chegaram à ilha numa embarcação à vela e na costa testaram embarcações a motor, abandonados por pescadores, supostamente para seguir viagem à ilha de Ibo, onde as autoridades e organizações não governamentais começaram a evacuar seus colaboradores, por recear ataques.
“A situação está complicada”, disse outro morador da ilha, anotando que começou a haver escassez de embarcações para as pessoas fugirem para áreas seguras.
“De Tanganhangue para Ibo os barcos estão a cobrar 1000 meticais”, quase quatro vezes do que a média, disse Rachid Aly, outro morador local que descreveu o desespero da população e de funcionários locais.
A Polícia moçambicana em Pemba ainda não se pronunciou sobre a ocupação dos rebeldes da Ilha Quirimba.
Presidente da República confirma vandalização de Quissanga
Os rebeldes chegaram à ilha Quirimba depois de saquear e vandalizar barracas e estabelecimentos comerciais na vila sede do distrito de Quissanga, no sábado, 2.
O grupo retirou todas as mercadorias da loja do empresário a quem tinha cobrado 150 mil meticais (cerca de 2.400 dólares norte-americanos), para libertar a camioneta que transportava os produtos para Quissanga, há duas semanas.
O Presidente moçambicano confirmou o saque e a vandalização da sede de Quissanga no fim da sua visita a Argélia, no sábado, 2, e anotou que os rebeldes estão a provocar pânico e terror porque tem agora a sua capacidade tática e material reduzida devido à perseguição das Forças moçambicanas e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, a SAMIM.
“Eles entram disparam e criam pânico, alias a palavra terrorismo é isso, é criar medo, terror, agitar, e é o que estão a optar. Eles entraram em Quissanga e foram para uma barraca e buscaram 15 sacos de produtos diversos e depois carregaram em motorizadas para essa zona de Mussomero”, frisou Filipe Nyusi.
Vaga de deslocados
Uma nova estimativa divulgada nesta segunda-feira, 4, pela Organização Internacional das Migrações indica que 80.000 pessoas foram deslocadas pelos recentes ataques de grupos rebeldes nos distritos de Macomia, Chiure e Mecufe, na província de Cabo Delgado.
O balanço compreende o período entre 22 de dezembro de 2023 e 1 de março, a segunda maior vaga de deslocados desde o início da insurgência em 2017.