O Governo de Moçambique promete forças especiais do exército, da marinha e da polícia em número suficiente para a proteção das operações de petróleo e gás na bacia do Rovuma, em Cabo Delgado, e o assunto divide opiniões.
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A publicação Carta de Moçambique avança que as forças especiais vão proteger não apenas a Península de Afungi, onde está a ser desenvovido um projeto bilionário de Gás Natural Liquefeito, mas também os trabalhadores que vivem nas comunidades vizinhas.
A promessa é feita ao abrigo de um Memorando de Entendimento entre o Governo e a Total, sendo que a companhia petrolífera deverá fornecer equipamentos, veículos e dinheiro, de acordo com aquela publicação.
Privatização da soberania
Entretanto, o Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), diz que apesar de reconhecer a necessidade de proteção das operações petrolíferas contra ataques terroristas, este modelo é problemático.
Veja Também Parlamento Europeu insta Moçambique a combater terroristas e respeitar direitos humanosPara o diretor do CDD, Adriano Nuvunga, este modelo significa a privatização da soberania moçambicana, realçando que o Governo tem o dever de assegurar, com os seus recursos humanos, logísticos e financeiros, a estabilidade militar em todo o território nacional.
Ele avança que "ao permitir o destacamento de contingente para a protecção de interesses privados em troca de pagamentos monetários, o Governo está a privatizar os serviços das forças de defesa e segurança e, consequentemente, a violar a Política de Defesa e Segurança".
Nuvunga diz ainda que o modelo adoptado pelo Governo tem o risco de criar problemas dentro das próprias forças de defesa e segurança, dado que os efectivos que irão prestar serviços às operações petrolíferas terão, além de salários pagos pelo Estado, subsídios transferidos pelo projecto LNG e direito à alimentação de qualidade.
Altos riscos
Contudo, para o líder do Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD), Raúl Domingos, conhecedor de questões militares, isso é pacífico, "porque as forças especiais correm altos riscos".
Aquele dirigente político recorda que no tempo da guerra colonial existiam grupos especiais de paraquedistas, sapadores, comandos e de fuzileiros navais", isto para dizer que as forças armadas de qualquer país têm grupos especiais para missões específicas".
Veja Também Nampula em posição delicada em relação à insurgência em Cabo Delgado, diz investigador Salvador Forquilha"Não se pode pegar num jovem de 18 anos que foi treinado para o Serviço Militar Obrigatório durante 45 dias para colocá-lo em operações especiais, porque isso é criar condições para que ele seja capturado à mâo", enfatizou Raúl Domingos.
Por seu turno, Calton Cadeado, especialista em assuntos de negociação de conflitos, considera que tudo o que for possível fazer deve ser feito, porque o conflito em Cabo Delgado ultrapassa a dimensão das capacidades do Estado.