O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrel, adiou, por causa da Covid-19, uma visita a Moçambique destinada a avaliar a situação da insurgência no norte do país, numa altura em que aquele bloco continental admite pagar a factura referente à presença do contingente ruandês em Cabo Delgado, assunto que não colhe consenso entre analistas.
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Borrel devia ter visitado, domingo passado (30), o quartel-general e o campo da KaTembe, doutro lado da baía de Maputo, onde especialistas da União Europeia treinam tropas moçambicanas para combater o terrorismo no norte do país.
A sua visita iria ter lugar numa altura em que se registam movimentações em torno de um eventual apoio à força ruandesa estacionada em Cabo Delgado e de um possível retorno da Total a Palma, no segundo semestre deste ano, sendo que há decisões de natureza política que têm que ser tomadas, nomeadamente, a sustentabilidade da segurança em Afungi.
Veja Também Chefe da Total Energy diz que o regresso a Cabo Delgado depende da sustentabilidade da segurançaAltos dirigentes da Total, incluindo o respectivo CEO, Patrick Pouyanné, encontram-se neste momento em Moçambique, para discutir estes assuntos.
Brilharete ruandês
Analistas dizem que a permanência de tropas do Ruanda - 2.000 homens bem equipados e bem alimentados - tem um custo muito elevado.
O Ruanda não é propriamente uma grande potência, antes pelo contrário é um país pequeno com recursos limitados, e não pode fazer este brilharete sozinho em Cabo Delgado, acrescentam analistas que também recordam a reputação deste país no tocante aos direitos humanos.
Por outro lado, consta que alguns "items" do Orçamento de Estado ruandês terão sido inflaccionados, aparentemente, para fazer face às despesas com o contingente que está a ajudar as forças moçambicanas a combater o jihadismo em Cabo Delgado.
Veja Também Cabo Delgado: Autoridades dizem que mataram mais um lider terroristaO chefe da Missão da União Europeia destinada a treinar tropas moçambicanas contra o terrorismo, Hervé Bléjean, admitiu apoio financeiro europeu ao Ruanda e defendeu uma alteração do mandato, para permitir a presença de europeus em Cabo Delgado.
"Para mim, um eventual apoio ao Ruanda, seja de que forma for, é sempre problemático, porque o Governo ruandês não respeita os direitos humanos; nós temos em Moçambque refugiados ruandeses que são perseguidos no seu país", afirmou o sociólogo Francisco Uamusse.
Perseguição de opositores politicos
Por seu turno, o jurista Ignésio Inácio interroga-se: "Querem apoiar um regime que persegue os seus opositores?”
Contudo, o jornalista Fernando Lima, conhecedor deste "dossier" diz que a ideia não é apoiar um contingente específico, o que se pretende é estender determinadas linhas de apoio a toda a força da SADC que está em Cabo Delgado.
Refira-se que neste momento já há companhias formadas por instrutores portugueses que estão a actuar em Cabo Delgado, e a ideia é que este contingente que agora faz formação com o rótulo União Europeia, forme em dois anos, 11 companhias de tropas especiais, nomeadamente rangers e fuzileiros.
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É esta força que, supostamente, deve providenciar serviços de segurança de qualidade em Cabo Delgado, depois da retirada do contingente internacional.
Entretanto, o analista e ex-jornalista Moisés Mabunda alerta que se os serviços de inteligência não funcionarem, " o que poderá acontecer depois da retirada da força internacional, vai ser um descalabro".
"Nós precisamos de ter um serviço de informação sério, porque um Estado que se preze, tem de ter um serviço de informação à altura, e nós não temos isso," diz Mabunda.