Centenas de deslocados da insurgência estão a recorrer a métodos tradicionais, pouco recomendados, para o tratamento da malária, infecções respiratórias, diarréias e outras doenças na província moçambicana de Cabo Delgado, na sequência da escassez de fármacos nos hospitais públicos, disseram à VOA, nesta segunda-feira 25, vários pacientes.
O Governo reconhece a escassez e diz que está em curso a reposição dos medicamentos nas farmácias públicas.
As dificuldades no acesso a medicamentos, sobretudo nas farmácias públicas, não são recentes, mas agravaram-se com a recente escalada de violência de ataques de insurgentes, desde Dezembro, contaram moradores.
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Adolfo Amadeu, está com as duas filhas com febres altas acompanhadas de vómitos, sintomas relacionados à malária, mas não pode procurar por tratamento convencional, na vila sede de Quissanga, porque o único hospital foi vandalizado e está encerrado desde o inicio do mês.
O camponês de 39 anos esteve escondido nas matas, nas últimas duas semanas, após uma invasão dos insurgentes à vila, e ficou sujeito a chuva e picadas de mosquitos.
“Em Quissanga, não temos hospital, nem socorrista, nada, só tem um jovem que está a vender comprimidos, e as pessoas vão aí comprar, e só tem paracetamol”, lamenta Amade.
Veja Também Moçambique: FDS recuperam Quirimba e Quissanga do controlo de insurgentesNa Ilha Quirimba, o posto de saúde está igualmente encerrado e há apenas um comerciante local a vender antibióticos, que são conservados de forma inadequado, disse um outro morador.
Em várias aldeias de Metuge, colado a Pemba, a capital de Cabo Delgado, e que acolhe o grosso de deslocados da insurgência, várias famílias estão a recorrer a métodos não convencionais para tratar doenças por conta da escassez dos fármacos nos hospitais.
Governo reconhece
“Aqui as pessoas estão a ter doenças dos olhos, malária, diarreias, e não tem medicamentos, nem no hospital. As pessoas estão a recorrer ao tratamento com medicamento tradicional”, que as autoridades de saúde não recomendam devido a vários riscos, diz Magide Adrisse.
O administrador de Mocímboa da Praia, Sérgio Cipriano, reconhece a falat de medicamentos.
“Ao nível dos postos administrativos, já estamos a registar alguma rotura de medicamentos”, diz Cipriano.
O governante, citado pela emissora estatal Rádio Moçambique, revelou que o governo de Cabo Delgado está a envidar esforços para normalizar a situação, anotando que “acreditamos que dentro de dias poderemos receber reforço de medicamentos”.
Assistência
Entretanto, a organização internacional Médico Sem Fronteiras (MSF), que atua no campo médico e humanitário desde 2019 em Cabo Delgado, assegurou estar a prestar apoio para suprir as dificuldades no acesso a serviços de saúde a população de seis distritos do centro e norte da província.
Veja Também Moçambique: Residentes da ilha Quirimba controlada por insurgentes com escassez de alimentos“Nós temos a possibilidade de responder com os medicamentos que são da organização para apoiar e complementar os medicamentos do sistema nacional de saúde”, diz à VOA, Francesca Zuccaro, adjunta chefe da missão em Moçambique.
Ela anota que 200 mil pessoas foram assistidas pela organização em 2023, nos distritos de Macomia, Mocímboa da Praia, Mueda, Muidumbe, Nangade e Palma.
No seu último relatório, o Centro de Integridade Pública diz que o problema alarmante de escassez de fármacos em Moçambique está associado à precariedade da logística farmacêutica, enquanto que o Observatório de Cidadão para Saúde atribuiu à dependência da ajuda externa.