A 4 de outubro de 2017, um grupo de 30 jovens lançou um ataque na provincia mocambicana de Cabo Delgado, considerado na altura um ato de crime comum, embora com carateristicas diferentes de outros registados, por exemplo, no centro do país.
A pouco e pouco, os ataques multiplicaram-se e os autores, embora desconhecidos, passaram a ser chamados pela população de al-shabab, enquanto o número de vitimas mortais e de deslocados aumentava.
Três anos depois, e com o Estado Islâmico a dar sinais de poder estar por trás dos ataques, pelo menos 1.500 pessoas foram mortas, quase duas mil estão deslocadas, há aldeias onde o Estado não existe, portos foram vandalizados e no terreno o Governo teve de apelar à ajuda de grupos privados militares russos e sul-africanos para combater a insurgência, sem muito sucesso até agora.
Por ocasião dos três anos do início da insurgência, a Amnistia Internacional (AI) denunciou na quarta-feira, 7, que as vítimas do conflito continuam a lutar por justiça, verdade e reparação.
A nota daquela organização lembra que ”os ataques violentos do grupo aumentaram 300 por cento, nos primeiros quatro meses de 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado".
As FDS, diz a AI, são “acusadas de crimes contra o direito internacional e violações de direitos humanos na perseguição dos suspeitos de fazerem parte do grupo armado, como execuções extrajudiciais, tortura e outros maus-tratos”.
Plano Marshall
Observadores e analistas alertam para a situação humanitária dramática atual que pode piorar se o Governo não conter a insurgência e criar programas económicos e sociais numa das províncias mais ricas do país e onde, apesar dos investimentos milionários de multinacionais, a pobreza continua a aumentar.
Eles advertem também que, até agora, a resposta militar do Governo, com recursos a “mercenários” estrangeiros, não tem resultado e defendem uma estratégia global para a província e para o país.
“Um Plano Marshal”, diz Fátima Mimbire, antiga jornalista e atualmente coordenadora do Fórum de Monitoria do Orçamento, que, no entanto, não se deve limitar-se a Cabo Delgado.
Ela adverte que “hoje é Cabo Delgado, mas amanhã pode ser Sofala ou Niassa”, onde já há ataques de “desconhecidos e sinais preocupantes”.
No campo humanitário, a situação “é preocipante”, mormente em tempos de pandemia, revela Jorge Matine, médico e diretor executivo do observatório Cidadão para Saúde.
“As organizações humanitárias e as estruturas do próprio Governo não têm tido meios para responder à demanda”, alerta Matine.
Na rubrica Agenda Africana, da VOA, aqueles observadores apontam caminhos para travar a insurgência e evitar uma crise generalizada, com forte impacto na vida das pessoas.
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