Selecionados em programa do governo brasileiro dão sugestões para quem pensa em fazer o mesmo
BRASIL —
Estudantes africanos que vivem no Brasil confirmam que o caminho mais resguardado para se estudar no país é por meio do Programa Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), mantido pelo governo brasileiro.
Por meio desse sistema, os interessados têm contato somente com instituições de ensino credenciadas e o direito de solicitar, em caso de necessidade, ajuda de custo do governo.
O PEC-G mantém hoje no Brasil cerca de dois mil universitários de várias nacionalidades, a maioria africana. Dois universitários, de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, vieram por meio do sistema e, apesar de relatarem dificuldades, garantem que a experiência é muito válida.
O estudante caboverdiano Geremias Furtado está prestes a voltar para casa com o diploma de Jornalismo na mão. Ele encerra em alguns meses os estudos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. "Eu estou quase me formando. Os meus planos são formar e voltar para Cabo Verde para exercer a minha profissão lá. Na verdade, daqui já escrevo para um jornal de lá e trabalhei lá quando estive de férias," relata.
O jovem lembra que ficou sabendo do Programa brasileiro de bolsas de estudo quando ainda cursava o segundo grau no seu país. "Como eu já tinha visto o Brasil na televisão, me apaixonado pela cultura brasileira e desejava conhecer um pouco mais, apostei e decidi vir para cá."
Na época, o estudante procurou mais informações sobre o Programa brasileiro no Ministério da Educação de Cabo Verde. O passo seguinte foi procurar a embaixada brasileira para se inscrever no PEC-G e, depois, pensar em como arcaria com os custos dos estudos no Brasil, já que o programa em si não dá garantia automática de auxílio para sobrevivência no Brasil. A saída encontrada pelo caboverdiano foi fazer um empréstimo em um banco.
"Eu tenho uma bolsa empréstimo de um banco de Cabo Verde que me financia. Depois de formado, eu preciso pagar esse empréstimo. Quando eu cheguei era rico," diz Furtado lembrando que o dinheiro antes até sobrava. "Mas, depois foi apertando com a crise e a subida do real. Deu uma quebradinha, mas foi suficiente no geral," afirma.
Por ter vindo para o Brasil com a parte financeira resolvida, Geremias explica que a maior dificuldade encontrada foi para se adaptar com o conteúdo acadêmico na UFMG. "Eu tive problemas, sim. Aquela base do ensino médio que é dada aqui eu não tive lá. Por exemplo, para mexer com programas avançados de computador, eu tive problemas, mas deu para ultrapassar."
O caboverdiano aconselha que outros estudantes sigam o caminho que ele fez. "Aproveitem. Estudar fora é sempre muito proveitoso. Você adquire não só conhecimento acadêmico, mas também o cultural, o amadurecimento e por aí vai. É muito interessante, eu aprendi muito por aqui," conclui Geremias Furtado.
Vindo de Angola.
Outro africano a incentivar a vinda de estudantes do continente para o Brasil é Abdelasy de Sousa, jornalista recém-formado que prossegue com os estudos de pós-graduação no Brasil, em Belo Horizonte (MG).
O estudante veio de São Tomé e Príncipe onde, como relata, existe um Gabinete encarregado de bolsas de estudos, no Ministério da Educação. "O estudante, depois de terminar o segundo grau, recorre a esse gabinete e coloca o seu currículo, todos os seus dados a nível escolar. Assim, concorre a vagas de estudos que os países colocam á disposição do governo de São Tomé," conta.
As indicações do Gabinete são enviadas, por exemplo, para a embaixada brasileira no país, que faz a seleção para o Programa PEC-G. Seguindo esses trâmites, em agosto de 2005, Abdelasy chegou ao Brasil com mais 40 alunos selecionados. "Chegando aqui é tudo muito novo, principalmente para quem vem de duas ilhas que tem mais ou menos 180 mil habitantes. Tudo é extraordinário, aquele impacto.
Mas, pouco a pouco, fomos nos habituando à situação brasileira. Fomos muito bem recebidos, não falo só por mim, mas por outros colegas São-Tomenses que vieram comigo," conta.
Apesar da receptividade, o estudante confessa que nem tudo é fácil para quem vem estudar em outro país. "Quando falamos de áreas das ciências exatas, por exemplo, ele encontra alguma dificuldade, porque o nosso ensino ainda é muito limitado. O ensino do segundo grau nos nossos países não é o mesmo nível dos estudantes brasileiros. Mas isso não é tão complicado porque, aqui, as universidades colocam monitorias para ajudar nisso," explica.
O que preocupa mesmo, na opinião do estudante de São Tomé, é o desafio enfrentado por que vem sem garantias de como se sustentar no Brasil, contando com a ajuda de parentes ou tendo que concorrer a bolsas de ajuda colocadas pelos ministérios brasileiro da Educação (MEC) e das Relações Exteriores (MRE).
Abdelasy acha que todos que pensam em seguir esse caminho precisam saber que o maior obstáculo é o financeiro, já que no Brasil o estudante não pode trabalhar legalmente. "O Brasil não é como os países europeus. No nosso caso, não é permitido trabalhar. Nosso visto é só de estudante, específico. O estudante mesmo tendo se aperfeiçoado na sua área fica limitado," alerta.
Limitação que, na visão do africano, não pode impedir a vinda do estudante. "Mesmo assim, hoje eu acho que isso não deve ser entrave para estudar no Brasil. Vale à pena o esforço, vale à pena o desafio, ter a experiência de vir fazer uma formação superior no Brasil," garante.
Abdelasy lembra, ainda, que as engenharias são hoje as melhores opções de graduações no Brasil, sobretudo, para os africanos.
"Engenharia Civil, principalmente, porque boa parte de países da África está em fase de reconstrução porque sofreu com as guerras. Medicina, as áreas da saúde na sua maioria, também, porque os países africanos precisam muito. Há, ainda, as áreas que a África sofreu falta por muito tempo, como a área de aviação. Em áreas técnicas, principalmente, é necessário vir se formar no Brasil porque o país hoje está no topo," aconselha.
Links
Ministério da Educação do Brasil - MEC
http://www.mec.gov.br/
Ministério das Relações Exteriores - MRE
http://www.itamaraty.gov.br/
Ministério da Comunicação de Cabo Verde - http://www.minedu.gov.cv/
Embaixada do Brasil em Praia – Cabo Verde
http://praia.itamaraty.gov.br/pt-br/educacional.xml
Embaixada do Brasil em São Tomé e Príncipe.
Os programas de Bolsa de estudo são coordenados pelo Centro Cultural Brasil – São Tomé e Príncipe
http://saotome.itamaraty.gov.br/pt-br/centro_cultural_brasil-sao_tome_e_principe.xml
Programa Estudantes-Convênio de Graduação - PEC-G
http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=530%26id=12276%26option=com_content%26view=article
Por meio desse sistema, os interessados têm contato somente com instituições de ensino credenciadas e o direito de solicitar, em caso de necessidade, ajuda de custo do governo.
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O PEC-G mantém hoje no Brasil cerca de dois mil universitários de várias nacionalidades, a maioria africana. Dois universitários, de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, vieram por meio do sistema e, apesar de relatarem dificuldades, garantem que a experiência é muito válida.
O estudante caboverdiano Geremias Furtado está prestes a voltar para casa com o diploma de Jornalismo na mão. Ele encerra em alguns meses os estudos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. "Eu estou quase me formando. Os meus planos são formar e voltar para Cabo Verde para exercer a minha profissão lá. Na verdade, daqui já escrevo para um jornal de lá e trabalhei lá quando estive de férias," relata.
O jovem lembra que ficou sabendo do Programa brasileiro de bolsas de estudo quando ainda cursava o segundo grau no seu país. "Como eu já tinha visto o Brasil na televisão, me apaixonado pela cultura brasileira e desejava conhecer um pouco mais, apostei e decidi vir para cá."
Na época, o estudante procurou mais informações sobre o Programa brasileiro no Ministério da Educação de Cabo Verde. O passo seguinte foi procurar a embaixada brasileira para se inscrever no PEC-G e, depois, pensar em como arcaria com os custos dos estudos no Brasil, já que o programa em si não dá garantia automática de auxílio para sobrevivência no Brasil. A saída encontrada pelo caboverdiano foi fazer um empréstimo em um banco.
"Eu tenho uma bolsa empréstimo de um banco de Cabo Verde que me financia. Depois de formado, eu preciso pagar esse empréstimo. Quando eu cheguei era rico," diz Furtado lembrando que o dinheiro antes até sobrava. "Mas, depois foi apertando com a crise e a subida do real. Deu uma quebradinha, mas foi suficiente no geral," afirma.
Por ter vindo para o Brasil com a parte financeira resolvida, Geremias explica que a maior dificuldade encontrada foi para se adaptar com o conteúdo acadêmico na UFMG. "Eu tive problemas, sim. Aquela base do ensino médio que é dada aqui eu não tive lá. Por exemplo, para mexer com programas avançados de computador, eu tive problemas, mas deu para ultrapassar."
O caboverdiano aconselha que outros estudantes sigam o caminho que ele fez. "Aproveitem. Estudar fora é sempre muito proveitoso. Você adquire não só conhecimento acadêmico, mas também o cultural, o amadurecimento e por aí vai. É muito interessante, eu aprendi muito por aqui," conclui Geremias Furtado.
Vindo de Angola.
Outro africano a incentivar a vinda de estudantes do continente para o Brasil é Abdelasy de Sousa, jornalista recém-formado que prossegue com os estudos de pós-graduação no Brasil, em Belo Horizonte (MG).
O estudante veio de São Tomé e Príncipe onde, como relata, existe um Gabinete encarregado de bolsas de estudos, no Ministério da Educação. "O estudante, depois de terminar o segundo grau, recorre a esse gabinete e coloca o seu currículo, todos os seus dados a nível escolar. Assim, concorre a vagas de estudos que os países colocam á disposição do governo de São Tomé," conta.
As indicações do Gabinete são enviadas, por exemplo, para a embaixada brasileira no país, que faz a seleção para o Programa PEC-G. Seguindo esses trâmites, em agosto de 2005, Abdelasy chegou ao Brasil com mais 40 alunos selecionados. "Chegando aqui é tudo muito novo, principalmente para quem vem de duas ilhas que tem mais ou menos 180 mil habitantes. Tudo é extraordinário, aquele impacto.
Mas, pouco a pouco, fomos nos habituando à situação brasileira. Fomos muito bem recebidos, não falo só por mim, mas por outros colegas São-Tomenses que vieram comigo," conta.
Apesar da receptividade, o estudante confessa que nem tudo é fácil para quem vem estudar em outro país. "Quando falamos de áreas das ciências exatas, por exemplo, ele encontra alguma dificuldade, porque o nosso ensino ainda é muito limitado. O ensino do segundo grau nos nossos países não é o mesmo nível dos estudantes brasileiros. Mas isso não é tão complicado porque, aqui, as universidades colocam monitorias para ajudar nisso," explica.
O que preocupa mesmo, na opinião do estudante de São Tomé, é o desafio enfrentado por que vem sem garantias de como se sustentar no Brasil, contando com a ajuda de parentes ou tendo que concorrer a bolsas de ajuda colocadas pelos ministérios brasileiro da Educação (MEC) e das Relações Exteriores (MRE).
Abdelasy acha que todos que pensam em seguir esse caminho precisam saber que o maior obstáculo é o financeiro, já que no Brasil o estudante não pode trabalhar legalmente. "O Brasil não é como os países europeus. No nosso caso, não é permitido trabalhar. Nosso visto é só de estudante, específico. O estudante mesmo tendo se aperfeiçoado na sua área fica limitado," alerta.
Limitação que, na visão do africano, não pode impedir a vinda do estudante. "Mesmo assim, hoje eu acho que isso não deve ser entrave para estudar no Brasil. Vale à pena o esforço, vale à pena o desafio, ter a experiência de vir fazer uma formação superior no Brasil," garante.
Abdelasy lembra, ainda, que as engenharias são hoje as melhores opções de graduações no Brasil, sobretudo, para os africanos.
"Engenharia Civil, principalmente, porque boa parte de países da África está em fase de reconstrução porque sofreu com as guerras. Medicina, as áreas da saúde na sua maioria, também, porque os países africanos precisam muito. Há, ainda, as áreas que a África sofreu falta por muito tempo, como a área de aviação. Em áreas técnicas, principalmente, é necessário vir se formar no Brasil porque o país hoje está no topo," aconselha.
Links
Ministério da Educação do Brasil - MEC
http://www.mec.gov.br/
Ministério das Relações Exteriores - MRE
http://www.itamaraty.gov.br/
Ministério da Comunicação de Cabo Verde - http://www.minedu.gov.cv/
Embaixada do Brasil em Praia – Cabo Verde
http://praia.itamaraty.gov.br/pt-br/educacional.xml
Embaixada do Brasil em São Tomé e Príncipe.
Os programas de Bolsa de estudo são coordenados pelo Centro Cultural Brasil – São Tomé e Príncipe
http://saotome.itamaraty.gov.br/pt-br/centro_cultural_brasil-sao_tome_e_principe.xml
Programa Estudantes-Convênio de Graduação - PEC-G
http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=530%26id=12276%26option=com_content%26view=article