Benguela: "O nosso salário não compra um saco de açúcar", dizem trabalhadores em greve da Textaf

Greve na fábrica de textéis. Benguela, Angola, Dezembro 5 2023

No primeiro dia de uma greve sem tempo definido, centenas de trabalhadores da fábrica têxtil de Benguela, em Angola, protestaram contra salários abaixo do preço de um saco de açúcar, gritando bem alto por um qualificador ocupacional, como impõe a legislação laboral em vigor.

Your browser doesn’t support HTML5

Fábrica de têxteis de Benguela em greve – 3:13

Com salários entre 40 mil e 70 mil kwanzas, cerca de 45 e 80 dólares norte-americanos, os 252 funcionários em greve admitem limitações na produção, um reflexo da escassez de matéria-prima, mas questionam o que chamam de injustiça salarial.

Your browser doesn’t support HTML5

Angolanos lamentam fraco poder de compra

À VOA, o líder da Comissão Sindical, Euclides dos Santos, disse ser um paradoxo que a área produtiva, que compreende a fiação de algodão, tecelagem, tingimento e confecção, seja a mais prejudicada, apontando como privilegiados alguns angolanos e expatriados.

Da comparação de salários ao preço de um saco de açúcar, hoje a setenta mil Kwanzas, a queixas de ameaças e expulsão do recinto empresarial, Euclides e companheiros deixaram várias críticas e lembraram que o Estado deve preservar a história da antiga África Têxtil.

"Nós fazemos turno uma semana inteira, o que já é desgastante, tanto física como psicologicamente, isso prejudica muito", disse.

"Estamos a pedir que a empresa aumente o salário para cem mil [kwanzas] e os bônus, não entendemos como a área produtiva seja a menos valorizada”, refere, acrescentando que “não é possível que um operador e até um engenheiro, neste caso os nossos supervisores, ganhem um saco de arroz ou menos, como nós".

Aquele sindicalista disse haver ameaças contra os grevistas afirmando que "a nossa empresa incorre em processo porque a lei diz que o funcionário é livre de aderir a greve, estamos a ver muitas ameaças".

Outra situação passível de processo-judicial é, de acordo com o líder sindical, a inexistência de qualificador ocupacional.

A Comissão Sindical diz que observou os pressupostos da lei, mas fonte da Textaf afirma que a greve é ilegal devido à entrega tardia do caderno reivindicativo, por via do qual os trabalhadores pedem igualmente esclarecimentos sobre o quadro económico da empresa.

À hora do envio da peça, aguardávamos ainda por um esclarecimento dos Recursos Humanos.

Em protestos anteriores na Textaf, ainda com outras designações, vários analistas alertavam que as três fábricas, reabilitadas com quase mil milhões de euros, eram inviáveis sem o algodão produzido no país.

Num encontro recente entre a equipa económica do Governo angolano e operadores têxteis, o ministro de Estado para Coordenação Económica, José de Lima Massano, anunciou que o Estado propõe 330 mil milhões de kwanzas como garantia para agricultores que tencionem produzir algodão em grande escala.

O objetivo, segundo o governante, é lançar bases para uma redução dos custos com a importação de vestuário, estimados em 500 milhões de dólares por ano.