As águas do mar voltaram a invadir bairros da segunda maior cidade de Moçambique, Beira, e forçaram a evacuação de 70 famílias, que totalizam 381 pessoas, após inundação e destruição das suas casas.
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A Beira foi construída sobre um pântano, da confluência dos rios Púnguè e Búzi, e abaixo da cota do nível do mar, estando agora a enfrentar uma guerra sobre o avanço das águas do mar, por um lado, devido a obstrução dos canais e esporões e, por outro, a destruição de dunas e mangais.
“O distrito e a cidade da Beira estão a ser fustigados por um temporal, por isso tivemos problemas na zona da Praia Nova, em que 15 casas ficaram destruídas, e em função disso nos vimos a população numa situação deplorável. Agora 381 pessoas composta por 70 famílias estão numa situação difícil”, disse João Oliveira, administrador da cidade.
As autoridades montaram um centro de acomodação provisório no Pavilhão dos Desportos com poucas tendas para acomodar as vítimas e começaram a distribuir alimentos, bem como de cloro para a limpeza da água e abertura de latrinas.
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Com relatos impressionantes, as vítimas contam que a água chegou durante o período da noite e apenas tiveram tempo de salvar os filhos e os parentes.
Elas defendem uma acção enérgica do Governo com o reassentamento definitivo das vítimas.
“A maré invadiu a casa na sexta-feira e a água chegava à cintura e por isso não conseguíamos sair de casa”, conta Dominga Pequenino, uma das vitimas que apenas retirou os filhos a nado pela manhã.
Jorge Manuel contou que as águas invadiram a casa na sua ausência, e quando regressou “tudo estava destruído”, clamando pelo socorro das autoridades.
Uma outra vitima, Janina Comprido, relatou que o Governo tentou os alojar em dois espaços improvisados sem condições, tendo depois recorrido ao Pavilhão dos Desportos, onde mais de 10 pessoas de famílias diferentes ocupam as mesmas tendas.
Além de casas de caniço, as águas do mar também invadiram e destruíram o muro de alvenaria construído pelo Conselho Municipal para o combate a erosão e avançaram contra várias casas de luxo ao longo da costa.
Em 2013, uma construtora iniciou um ambicioso projecto de construção de esporões de pedras, após o primeiro plano, que construiu cinco quilómetros de murro de alvenaria, mostrar-se insustentável para corrigir a erosão como barreira de proteção costeira e impedir o avanço das águas do mar.
Um plano de reassentamento das famílias em zonas de risco foi traçado por várias vezes, mas falhou sempre, devido, em parte, à intrusão de oportunistas, que se faziam passar por vítimas para receber talhões.
Enquanto o reassentamento não chega anualmente as famílias vão lutando, sem vencer, o poder da água que a cada vez avança e atinge zonas mais distantes da costa.