As autoridades do distrito de Macomia “decretaram” a retirada compulsiva, até amanhã, dos residentes da vila de Mucojo, quase um mês depois do assalto e ocupação por rebeldes, do estratégico e principal entreposto pesqueiro, disseram à Voz da América nesta quarta-feira, 28, vários moradores locais.
Os insurgentes e a população estiveram no último mês em convivência pacífica em Mucojo, que, agora, apelaram à população a não cumprir a ordem de abandono, insistindo que vai garantir a sua segurança.
O aviso de retirada foi transmitido por alguns líderes locais, mas não foram avançadas as razões da evacuação daquela zona, explicou Adrisse Abdalá, um pescador local.
“Eu participei numa reunião com o novo chefe da localidade em Masiva, e lá foi dada a informação que toda a população deve sair”, precisou Adrisse Abdalá, anotando que, face ao aviso, os ”insurgentes também advertiram que novo reforço está a chegar para a segurança da população”.
Ele receia que a população seja usada como escudo humano, numa possível investida das forças moçambicanas e estrangeiras para a retomada do controlo de Mucojo.
“Assim aqui estamos à espera. Todos os insurgentes que estavam a atacar no Sul (da província moçambicana de Cabo Delgado), estão a caminho da aldeia de Mucojo”, afirmou aquele pescador, realçando que a população está a ser “disputada”.
Outro morador disse que algumas pessoas estão a fugir de forma sorrateira para Napala, onde apanham transportes semi coletivos ou via marítima, para Pemba ou outros distritos seguros.
Ainda segundo as mesma fontes, parte dos deslocados que fogem de Mucojo via marítima, está a ser parada pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS) nas ilhas de Quirambo e Matemo, no distrito de Ibo.
“Tivemos a ordem para sair. O inimigo disse que vêm reforçar porque o Governo está a tirar a população. Assim estamos à espera, numa incerteza” contou Jumail Sualeh, outro morador local.
O administrador do distrito de Macomia, Tomás Bandae, não respondeu de imediato o pedido de comentário da Voz da América.
Ocupação do Mucojo
A ocupação de Mucojo, a 21 de Janeiro, marca a primeira vez que a insurgência assume o controlo de uma povoação significativa desde que foi expulsa de Mocímboa da Praia e Mbau em agosto de 2021, escreve o Cabo Ligado, uma publicação que acompanha a insurgência em Cabo Delgado.
A publicação, ligada ao Projecto de Dados e Localização de Conflitos Armados (ACLED, na sigla inglesa), anota que Mucojo tornou-se numa vantagem tática em Macomia para os insurgentes acederem ao mar e se espalharem pelos distritos a sul emboscando civis e forças de segurança pelo do caminho.
Mucojo tem sido fortemente contestado pelos insurgentes, que mantêm um contingente de cerca de 150 combatentes, e pelas forças de segurança desde dezembro de 2023 e mudou de mãos duas vezes desde 20 de Janeiro.
Autoridades “decretam” retirada da população em vila de Macomia, controlada por insurgentes
Desde 21 de janeiro, a vila de Mucojo está sob controlo dos insurgentes, que pediram aos residentes para não respeitarem a ordem
Chimoio —