Mahommah Gardo Baquaqua, nascido no actual Benim, poderia passar despercebido, invisível como tantos outros africanos escravizados nas plantações brasileiras. No entanto, acabou fugindo a essa perversa tendência histórica e transformou-se num abolicionista convicto, com passagens pelo Haiti, Estados Unidos e Inglaterra.
Foi ele também o único escravo africano no Brasil a escrever a sua auto-biografia. O livro “An interesting narrative: Biography of Mahommah G. Baquaqua” (“Uma interessante narrativa: Biografia de Mahommah G. Baquaqua”) foi lançado pelo próprio ex-escravo em Detroit, nos Estados Unidos, em 1854.
Os historiadores Paul Lovejoy e Robin Law republicaram o livro nos anos 2000. Segundo consta dos registros da edição original, parte da obra foi ditada para o escritor Samuel Moore, responsável também por editar a história do escravo.
A trajectória desse personagem começa nos anos 1820, em Dijougou, onde hoje é o norte do Benim. Filho de um proeminente comerciante, o pequeno Mahommah Baquaqua estudou numa escola islâmica para ter acesso ao Corão, adquirindo conhecimentos de leitura e de matemática.
As suas habilidades logo lhe permitiram actuar em importantes rotas comerciais que ligavam o então califado de Socoto e o extinto Império Ashanti, que rivalizavam no tráfico de escravos e no domínio de regiões da África Ocidental.
Baquaqua foi preso e feito escravo pelos Ashanti enquanto vendia grãos, noz de cola e outras especiarias para o fronte de guerra. Mesmo sendo recomprado e libertado pelo seu irmão, acabou novamente detido pouco tempo depois por tentar roubar e ingerir bebida alcoólica perto de Dijougou.
Novamente escravizado, foi levado para a cidade litoral de Uidá, importante porto de onde saía grade parte dos cativos destinados ao chamado “Novo Mundo”. É a partir desse ponto que a autobiografia ganha os seus contornos mais emocionantes.
Pernambuco foi o destino do navio que levou Baquaqua, que aí desembarcou em 1845.
A obra, agora, está a ser traduzida para o português pelo professor universitário brasileiro, natural de Pernambuco, Bruno Véras e deverá ser lançada em Outubro.
Na edição de hoje de Artes e Entretenimento, Bruno Véras é o convidado. Acompanhe:
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