O autarca da província moçambicana Quelimane, Manuel de Araújo, diz estranhar o silêncio da maioria das embaixadas em Moçambique face ao que considerou de “mega fraude eleitoral” nas eleições municipais de 11 de outubro e prometeu levar as queixas aos tribunais internacionais.
O presidente cessante daquele município que perder as eleições, segundo dados oficiais fez esta afirmação depois de um tribunal local julgar improcedente a reclamação da Renamo, partido dele.
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Analistas políticos admitem que houve muitos sinais, ignorados pela oposição de que as eleições deste ano seriam anormais.
Veja Também Ossufo Momade anuncia "início de uma revolução" até que a justiça devolva a "verdade eleitoral"“Iremos levar este assunto para Bruxelas, a sede da União Europeia, para que os europeus, que financiam a Frelimo, saibam o que a Frelimo faz aqui”, disse Manuel de Araújo, interrompido várias vezes por aplausos no segundo dia da marcha de repudio aos resultados eleitorais em Quelimane.
Embaixadas interessadas apenas nos recursos do país
Ele acusa a comunidade internacional de estar calada perante "uma grave defraudação da democracia2 com a fraude nas ultimas eleições.
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Para Araújo, a maioria das embaixadas está interessada apenas nos recursos de que o país dispões, no lugar de assegurar os direitos humanos dos seus povos, que, explicou “a comunidade internacional não abre a boca, fecha os olhos as atrocidades da Frelimo, porque vende o nosso gás ao desbarato e em troca vendem a nossa dignidade e vendem os nossos direitos”.
Refira-se que a Embaixada dos Estados Unidos da América em Maputo, em nota, disse na segunda-feira, 16, existir muitos relatórios credíveis de irregularidades no dia da votação e durante o processo de apuramento dos votos das eleições autárquicas e pedu que haja uma resolução justa sobre esses alegados ilícitos eleitorais.
"Exortamos as autoridades eleitorais, os tribunais locais e o Conselho Constitucional a levarem a sério todas as queixas de irregularidades e a actuarem com imparcialidade", continua o comunicado, que destaca que "um processo eleitoral limpo, transparente e pacífico é essencial para o futuro da democracia multipartidária de Moçambique", lê-se na nota da representação diplomática de Washington em Moçambique.
Veja Também Plataformas cívicas de observação eleitoral chumbam eleições autárquicas em MoçambiqueEleições anormais
Em conversa com a Voz da América, analistas moçambicanos admitem que vários sinais, ignorados pela oposição, ficaram aà solta desde o recenseamento eleitoral, indicando que estas eleições seriam anormais.
O politólogo Martinho Marcos observa que, além do recenseamento, a indicação tardia e a movimentação de última hora dos membros das mesas de voto dos partidos políticos, pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) nos distritos, “baralhou a estratégia de controlo” da fraude dos partidos da oposição, que foram nestas eleições sem os habituais recursos financeiros do Estado.
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“Havia muitos boletins de votos que circularam em paralelo no processo de votação, sobretudo nos municípios dirigidos pela oposição e isso não é uma situação normal para eleições livres, transparentes e justas”, precisa Marcos.
Por sua vez, o antido deputado e atual professor univesitário Sande Carmona classificou as sextas eleições de "terrorismo eleitoral", ao considerar anormais as evidências de fraude nestas eleições, lembrando que “se a justiça funcionasse neste país, muita gente estaria presa e os resultados virados a favor da oposição”.
“Os tribunais que anularam as eleições saem como heróis porque prestaram um serviço útil à população ao reverter a situação de fraude, que desgasta a luta do povo moçambicano para ver o país altamente democratizado”, vinca Sande Carmona, sobre as batalhas judiciais levantadas pela oposição moçambicana sobre as eleições.
Pelos menos dois tribunais anularam as eleições municipais em Chokwe (Gaza) e Cuamba (Niassa) e julgaram improcedentes as reclamações interpostas pela Renamo em Chiure (Cabo Delgado), Quelimane (Zambézia) e Vilanculos (Inhambane).
Um total de 65 municípios, incluindo 12 novas autarquias, foram às eleições, a Frelimo ganhou em 64 deles, o MDM manteve o município da Beira, na província de Sofala.
Nas eleições autárquicas de 2018, a Frelimo, no poder a nível central, venceu em 44 das 53 autarquias e a oposição em apenas nove, Renamo) em oito, e o MDM, uma.
A Frelimo, através do seu secretário-geral, Roque Silva, confirmou a vitória do partido, pediu que se aguardem os resultados definitivos e assegurou que o seu partido respeita as decisões dos tribunais.