O número de adolescentes grávidas que aparecem nas consultas pré-natais da maioria dos centros de saúde da cidade do Lubango está a preocupar autoridades sanitárias e organizações que lutam em prol do empoderamento da mulher.
Em resposta, a maior maternidade da região teve que abrir um gabinete para atender esses casos.
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No centro de saúde do bairro da Maxiqueira onde acorrem pacientes de diferentes zonas do centro e periferia da cidade do Lubango, meninas a partir de 14 anos de idade apresentam-se diariamente entre 5 a 10 para consultas de gravidez, uma realidade recorrente em outros estabelecimentos de saúde.
A médica Teresa Ngueve vê o assunto com preocupação já que a gravidez na adolescência pode ter consequências na saúde da jovem mulher.
“Tem grande perigo a princípio é que a adolescente não está formada sexual e fisicamente há vários perigos porque pode incorrer em fazer cesariana e outras coisas mais”, diz.
O elevado número de adolescentes que todos os dias vão às consultas pré-natais obrigou a maternidade Irene Neto, a maior da região, a abrir um gabinete para atender casos específicos de jovens mães.
“Essas consultas todas de adolescentes por serem de adolescentes de alto risco obstétrico têm sido feitas aqui na maternidade e são muitas”, afirma Fátima Afonso, chefe de enfermagem do Hospital Materno-Infantil do Lubango, Irene Neto.
O professor Estêvão Angelina defende que o problema é real e uma das soluções passa por haver mais diálogo entre pais e filhos sobre assuntos ligados à sexualidade.
“Em casa não há conversa porque cada criança tem o seu telefone o que ela vê no telefone não é de sua idade. Ela quer colocar alguma coisa que ainda não chegou a tempo de colocar. As crianças assistem vídeos pornográficos os pais às vezes sabem mas fazem-se de não saberem, eles pensam que é bom que ele comece a ter aulas de educação sexual, mas a aula de educação sexual pode ser dada a qualquer nível mas atenção temos que ver a dosagem”, aponta Angelina.
Para o núcleo local da Associação Provincial da Jovem Mulher Empoderada, a gravidez na adolescência está a tirar o sonho a muitas jovens e defende por isso uma solução muti-sectorial com mais diálogo sobre a educação sexual sem tabus na família, palestras nas escolas, na saúde e intervenção das igrejas.
A coordenadora do referido núcleo na Huíla, Neusa Zola, olha para os comportamentos de risco da juventude para alertar sobre o futuro.
“A população angolana é maioritariamente jovem, o tal futuro está a comprometer-se com comportamentos de risco de género que Angola teremos? Se 1 em 4 adolescente em Angola dos 15 aos 17 anos já tem um filho até aos 19 anos, quantos filhos terá? Isto tudo nos diz o quê? que cada gravidez de uma adolescente é um grito de socorro para educação sexual de qualidade, elas estão a gritar!”, afirma
Sobre o assunto, a VOA tentou ouvir sem sucesso o gabinete local da Educação.
Sabe-se que as matérias sobre educação sexual quando abordadas em salas de aula acontecem apenas de forma isolada e por iniciativa deste ou daquele professor e nunca como assunto curricular.