A escassez de divisas e produtos básicos nas prateleiras dos supermercados do Zimbabwe está a forçar uma nova corrida dos cidadãos daquele país ao mercado moçambicano para se abastecerem, numa altura em que aquele país regista um recorde da sua dívida pública.
Autoridades migratórias moçambicanas confirmaram à VOA que o número quadruplicou nos primeiros 45 dias deste ano, em relação ao mesmo período de 2022.
Em Machipanda, a principal fronteira terrestre entre Moçambique e Zimbabwe, trouxas nas cabeças com arroz, sabão, açúcar, óleo vegetal e até fraldas descartáveis denunciam o agravamento da crise que há duas décadas já obrigava muitos zimbabweanos a atravessar a fronteira em busca de alimentos.
Em declarações à VOA, a zimbabweana Rosi Mutchenga disse que a escassez de divisas está a dificultar a compra de alimentos que também são escassos nos mercados, sendo que algumas pessoas atravessam com produtos não alimentares que vendem em Moçambique para comprar comida.
Falta tudo... "só a graça de Deus"
“Nós estamos a viver pela graça no Zimbabwe, mesmo quando a crise aperta, sentimos que Deus ainda ama o país”, afirmou Rosi Mutchenga, em alusão à ausência de um Governo capaz de travar uma recessão económica que está “a rasgar o poder de compra da população”.
Outro zimbabweano, Tawanda Ndwere, disse ser necessário ter coragem para viver no país e ter de enfrentar uma “vida toda de dificuldade”, desde a escassez de divisas ao colapso do sistema comercial, de saúde e educação.
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“As coisas estão difíceis no Zimbabwe, é preciso coragem, e entendemos que vivemos pela graça de Deus”, aponta Ndwere, que cita a hiperinflação.
O movimento de zimbabweanos que entraram e saíram do país quase que quadruplicou nos primeiros 45 dias do ano em curso.
Dados dos Serviços provinciais de migração de Manica indicam que 9.524 zimbabweanos atravessaram a fronteira de Machipanda entre 1 de Janeiro e 15 de Fevereiro corrente, contra 2.380 no período homólogo de 2022.
“Isso revela um crescimento do movimento migratório de zimbabweanos”, disse Abílio Mate, porta-voz dos Serviços de Migração de Manica, realçando que um número grosso dos passageiros segue até a Beira, onde fica o principal porto que abastece os países do interior do continente.
Joaquim Chissano procura saídas para a dívida do Zimbabwe
Nesta quinta-feira, 23, o antigo Presidente moçambicano, Joaquim Chissano, vai reunir-se com o director do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Akinwumi Adesina, para mediar a liquidação da dívida em atraso do Zimbabwe.
Em Setembro de 2022, a dívida pública do Zimbabwe era de 17.63 biliões de dólares, dos quais 750 milhões de dólares devido ao BAD, até Dezembro do mesmo ano.
Entretanto, o Governo continuou a contrair empréstimos externos usando as matérias primas como garantias e ampliou os seus empréstimos domésticos por meio da emissão de títulos da dívida, noticiou a imprensa local.
Os gastos do Governo para o ano fiscal de 2023 estão sub-financiados no valor de 1.56 bilião de dólares na sequência da depreciação do dólar zimbabweano, para continuar a financiar despesas públicas e as reformas económicas e de governação, além de compensar os antigos proprietários brancos, cujas propriedades foram expropriadas numa reforma agrária em 2000.