O número de pessoas deslocadas na sequência do conflito político-militar na província moçambicana de Manica, aumentou enormemente nos quatro centros de acomodação criados para dar abrigo seguro aos que fogem de zonas atingidas pela violência.
O campo mais recente em Vanduzi recebeu 1.016 deslocados de 11 zonas despovoadas pelo conflito em duas semanas, totalizando cerca de seis mil pessoas nos abrigos de Mossurize, Gondola e Barue.
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Desta forma, em regra, duas ou três famílias (cada família tem uma média de cinco membros) são obrigadas a partilha um espaço de seis metros quadrados duma tenda.
“Fugi da guerra em Nhahala, por causa de ataques”, declarou Fátima Saide, recém chegada no campo de deslocados de Vanduzi, com sete filhos, que descreveu violentos assassinatos na sua zona de origem,e lamenta a falta de comida para resistir à fome.
Além da fome, Vailete Chiringa, que fugiu com 10 membros da sua família de Chiuala, uma zona dilacerada por confrontos, com casas e celeiros incendiados, para Vanduzi, onde partem as colunas de viaturas escoltadas pelo exército, relata episódios da falta de água e os esforços para refrear os problemas de doenças hídricas no campo.
Estômagos famintos e rostos pálidos denunciam a pobreza e a fome em milhares de deslocados, que recebem uma distribuição irregular de comida do INGC, que assiste os quatro centros de acomodação instalados na província de Manica.
Nos pequenos corredores entre as tendas, a falta de comida é exposta por panelas de barro vazias e fogo apagado, e ou focos barulhentos de partilha da refeição, geralmente à base de feijão e xima (farinha de milho).
“O maior problema que nós temos é fome. O Governo dá apoio, mas ainda não é suficiente para todos”, lamentou Rogério Abril, chefe de pavilhões do mais recém criado centro de acomodação de Vanduzi, que precisa de mais tendas e comida para atender os necessitados.
Os deslocados do novo centro de Vanduzi, implantado há duas semanas, inicialmente com 125 famílias, são provenientes de Nhamatema, Pungue Sul, Chiuala, Honde, Guta, Mucombedzi, Pina, cruzamento de Macossa, Mossurize, Dombe e Chemba (Sofala), zonas criticas e agora despovoadas, onde são frequentes relatos de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado da Renamo.
Entre lamentos de fome e miséria, Inácio Baera, em Mossurize, ressalta que “nós queremos voltar para casa e vivermos como antes, porque a actual vivência não nos dignifica”, já se “estivesse em casa teria fartura”.
Em Manica existem quatro centros de acomodação das vítimas da tensão politico-militar e da seca, a tivados há mais de seis meses, sendo o de Mussurize que alberga o maior número de vítimas, seguido de Vanduzi, Báruè, com 646, e Gondola, com 115 pessoas.