Ativistas detidos em Malanje sem data de julgamento e governador ameaça "tratar" os que o criticam

Jesse Lourenço, activista cívico de Malanje

O julgamento dos ativistas detidos quando pretendiam realizar uma manifestação em Calandula, na província angolana de Malanje, no dia 17, para pedir a demissão do administrador municipal, ainda não tem data marcada.

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Malanje – Ativistas continuampresos e em gree de fome - 3:04


Nesta quarta-feira, 23, eles entram no quinto dia de greve de fome nos calabouços do Comando Municipal da Polícia Nacional de Cacuso, confirmou o advogado de defesa, Carlos Xavier Lis Lucas.

Entretanto, o governador Norberto dos Santos aumentou a pressão sobre os ativistas na província dizendo que vai "tratar" deles.

O Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa da Delegação Provincial do Ministério do Interior de Malanje confirmou no domingo, 20, que os arguidos já tinha sido apresentados ao Ministério Público.

Carlos Lucas, advogado

O advogado de defesa do grupo admite haver atrasos por parte da corporação.

“Tudo indica que a Polícia está a agir de má-fé porque nos termos da lei a regra é quando se faz a detenção de alguém onde o processo é sumáriotem que ser encaminhado imediatamente ao Ministério Público, para que, por sua vez, junto do tribunal procure despoletar os mecanismos ligados ao pronto julgamento”, afirmou Lucas, para quem “não é isso que está a acontecer”

O vice-presidente da CASA-CE, na oposição, Alexandre Sebastião André reagiu a esta situação, dizendo que os ativistas de Calandula e Malanje estavam somente a exigir o direito de ver melhoradas as condições sociais naquele municipio e confirmou que estão presos numa cela sem as mínimas condições de biossegurança em tempo da Covid-19.

“As autoridades devem ter em conta que os mesmos não são assaltantes, não tentaram roubar motorizada ou uma galinha para irem presos, porque agora está assim (...), quem comete um crime por mais ínfimo que for vai preso, mas deixa-se de fora aqueles que levaram o país de rasto”, acusou André, que pediu a libertação dos ativistas “que tentaram exercer a sua atividade de cidadania”.

Ameaças do governador

Norberto Fernandes dos Santos, governador de Malanje

Entretanto, ontem foi posto em liberdade o ativista Jesse Lourenço detido na noite de sábado, 19, por agentes da Polícia Nacional, quando com outros colegas concentrava-se para uma vigília no Jardim da Liberdade em Malanje, contra as detenções feitas em Calandula no dia do Herói Nacional.

Jesse Lourenço foi repreendido publicamente pelo governador provincial, Norberto dos Santos, num encontro recentemente que ele manteve com líderes juvenis em Malanje.

“Sabes quantas horas de carro eu já andei em sítios que há 40 ou 50 anos nunca viram um governador? Tenha respeito com a sua boca, por favor! Eu não admito que você use (...) ainda por cima na presença dos outros jovens aquilo que te mandaram dizer”, referiu Santos.

“E podes dizer àqueles que te mandaram dizer, que eles eu já estou a tratar deles, vão responder em tribunal, estou a te dar recado para dizer, porque eu sei quem te mandou dizer isso”, prometeu o governador na altura.

Observadores e ativistas têm criticado o fato de, ao contrário de Luanda, em Malanje e outras províncias as manifestações serem praticamente proibidas.