Pelo menos 56 mortos em combates no Sudão

  • AFP

Cartum fotografada durante os confrontos entre o exército sudanês e as forças paramilitares em setembro de 2024. Fotografia de arquivo

Bombardeamentos de artilharia e ataques aéreos mataram pelo menos 56 pessoas na Grande Cartum no sábado, 1, segundo uma fonte médica e activistas sudaneses.

O exército regular do Sudão e as forças paramilitares de apoio rápido (RSF) têm estado envolvidos numa batalha pelo poder desde abril de 2023, que se intensificou este mês com a luta do exército para conquistar toda a capital Cartum e as cidades irmãs de Omdurman e Cartum Norte.

Os bombardeamentos da RSF mataram 54 pessoas num mercado movimentado em Omdurman no sábado, sobrecarregando o Hospital Al-Nao da cidade, disse uma fonte médica à AFP.

“Os obuses atingiram o mercado de legumes, por isso as vítimas e os feridos são tantos”, disse um sobrevivente à AFP.

Do outro lado do Nilo, em Cartum, dois civis morreram e dezenas ficaram feridos num ataque aéreo a uma zona controlada pelas RSF, informou a equipa de Emergência (ERR) local.

Embora a RSF tenha utilizado drones em ataques como o de sábado, os caças das forças armadas regulares mantêm o monopólio dos ataques aéreos.

O ERR é uma das centenas de comités de voluntários que coordenam os cuidados de emergência em todo o Sudão.

Para além de ter matado dezenas de milhares de pessoas, a guerra desalojou mais de 12 milhões de pessoas e obrigou a que a maior parte das instalações de saúde deixassem de funcionar.

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Um voluntário do hospital de Al-Nao disse à AFP que se registava uma escassez extrema de “mortalhas, dadores de sangue e macas para transportar os feridos”.

O hospital é uma das últimas instalações médicas a funcionar em Omdurman e tem sido repetidamente atacado.

Após meses de impasse na Grande Cartum, o exército retomou várias bases em Cartum no mês passado, incluindo o seu quartel-general antes da guerra, empurrando a RSF cada vez mais para os arredores da cidade.

Testemunhas afirmaram que o bombardeamento de Omdurman, no sábado, teve origem nos arredores ocidentais da cidade, onde o RSF mantém o controlo.

Um residente de um bairro do sul da cidade relatou ter havido disparos de foguetes e de artilharia nas ruas da cidade.

Contraofensiva

O bombardeamento de sábado ocorreu um dia depois de o comandante da RSF, Mohamed Hamdan Daglo, ter prometido retomar a capital ao exército.

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“Expulsámo-los (de Cartum) antes e vamos expulsá-los de novo”, disse ele às tropas num raro discurso em vídeo.

A Grande Cartum tem sido um campo de batalha chave em quase 22 meses de combates entre o exército e a RSF, e foi reduzida a uma casca do que era.

Uma investigação da London School of Hygiene and Tropical Medicine concluiu que 26 000 pessoas foram mortas só na capital entre abril de 2023 e junho de 2024.

Bairros inteiros foram tomados por combatentes, enquanto pelo menos 3,6 milhões de civis fugiram, de acordo com os números das Nações Unidas.

Os que não puderam ou não quiseram sair relataram frequentes disparos de artilharia contra áreas residenciais e fome generalizada em bairros sitiados e bloqueados pelas forças opositoras.

Estima-se que pelo menos 106.000 pessoas estejam a sofrer de fome em Cartum, de acordo com a Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar, apoiada pela ONU, com mais 3,2 milhões de pessoas a sofrerem níveis de crise de fome.

A nível nacional, a fome foi declarada em cinco áreas - a maioria das quais na região ocidental de Darfur, controlada principalmente pela RSF - e espera-se que se instale em mais cinco até maio.

Antes de deixar o cargo, a administração de Joe Biden sancionou o chefe do exército sudanês, Abdel Fattah al-Burhan, acusando o exército de atacar escolas, mercados e hospitais e de utilizar a fome como arma de guerra.

Esta designação surgiu uma semana depois de Washington ter sancionado o comandante da RSF pelo seu papel nas “graves violações dos direitos humanos” no Darfur, onde o Departamento de Estado afirmou que as suas forças tinham “cometido genocídio” contra grupos minoritários não árabes.