Assassinato de Anastácio Matavel intimida observadores eleitorais, diz coordenador da Sala da Paz

  • VOA Português

Anastácio Matavel, Observador eleitoral, Moçambique

O coordenador da plataforma de observação eleitoral Sala da Paz diz que o assassinato do seu membro Anastácio Matavel, pela Policia de Moçambique, cria um clima de medo.

Em resultado disso, “a observação eleitoral será condicionada”, diz Hermenegildo Muhlovo em entrevista exclusiva à VOA em Maputo.

Os elementos da Sala da Paz , sublinha Muhlovo, exigem celeridade na investigação do caso e que os mentores sejam de forma exemplar responsabilizados.

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Coordenador da Sala da Paz diz que assassinato de Matavel pela Polícia de Moçambique cria clima de medo

Eis resumo da entrevista minutos antes de Muhlovo deixar Maputo com destino à Gaza, onde será realizado, hoje, 9 de Outubro, o funeral de Anastácio Matavel, assassinado nesta segunda-feira.

VOA: Como reage a Sala da Paz ao assassinato de Matavel?

Hermenegildo Muhlovo (HM): Este é um duro golpe para a democracia eleitoral em Moçambique.

Como Sala da Paz, sentimos que este golpe criou um ambiente de intimidação, numa altura em que preparamos o processo de observação da votação de 15 de Outubro.

O observador Anastácio Matavel era uma figura-chave na nossa actividade. Foi um dos percursores da Sala da Paz. Toda a região sul era coordenada pelo seu núcleo.

Foi duro golpe. Estamos chocados.

Hermenegildo Muhlovo, Sala da Paz, Moçambique

VOA: Golpe que pode ter impacto no vosso trabalho...

HM: Antes, devo dizer que esperamos uma responsabilização exemplar dos assassinos. Esperamos que o caso seja o mais rápido esclarecido.

Claramente que nestas condições não podemos pensar numa observação livre

No norte do país, temos os ataques, em Cabo Delgado; no centro também, temos ataques. E tivemos ainda a xenofobia (no maior circulo eleitoral da diáspora, África do Sul).

Assim, estamos preocupados com a segurança dos nossos observadores. Será, de facto, uma observação condicionada.

VOA: A polícia admitiu que o observador Anastácio Matavel foi morto por seus agentes de forças especiais. Será esse um sinal de que haverá justiça?

HM: Já é um acto positivo a polícia ter reconhecido isso, mas sentimos que resulta da pressão da sociedade civil que denunciou a existência de malfeitores na corporação.

Nós precisamos de medidas enérgicas para garantir que a Policia seja vista como instituição que garante a segurança.

Para nós, a partir disto (responsabilização dos assassinos de Matavel) deveria ser feita uma limpeza na policia para tirar outros com comportamentos de risco, sem esperar por actos macabros.

VOA: A Polícia sempre recusou ter esquadrões de morte...

HM: A Policia a partir deste momento tem a oportunidade de provar o contrario.

Existe pouca celeridade na resolução de conflitos eleitorais, o que favorece a acção de malfeitores. Cria um ambiente de desconfiança.

É necessário que a policia seja célere na resolução deste caso.

VOA: Tem havido algum apoio após o assassinato de Matavel?

HM: Temos mantido comunicação com a família (de Matavel), mas não sentimos um braço solidário da Policia.

A Polícia deve sair com uma mensagem encorajadora para os observadores. Sentimos que a policia deve fazer um pouco mais.

Sentimos falta de pronunciamento do governo. É necessário pronunciar-se para justamente garantir eleições tranquilas.

Estranhamente ainda não tivemos nenhum pronunciamento dos partidos políticos, que beneficiam da observação eleitoral.

VOA: Será que a observação eleitoral é desejada?

HM: Devo dizer que nós queremos contribuir para a integridade das eleições. Foram assinados acordos de paz e a observação eleitoral é que deve garantir isso.

Para tal, queremos também pedir as autoridades eleitorais para facilitar a credenciação de observadores. Temos tido dificuldades em Nampula e Zambézia.

E esperamos que os autores morais (do assassinato de Matavel) sejam trazidos à superfície, de modo a desencorajar outros que pretendam prejudicar o trabalho de observação eleitoral.

Hermenegildo Mulhovo é director-executivo do Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), que criou a plataforma Sala da Paz.