Medo nas provincias do interior
Quando falta pouco mais de um mês para os angolanos irem às urnas nas eleições presidenciais e parlamentares de 31 de Agosto de 2012, instalou-se um clima de medo nas províncias do interior, nomeadamente Benguela e Kwanza Sul, onde algumas pessoas dizem recear o retorno à guerra civil.
Dezenas de famílias estão a abandonar as suas aldeias, fixando-se, em alguns casos, na província do Huambo.
Desde o princípio do mês de Julho, as Forças Armadas Angolanas (FAA) destacaram uma companhia com cerca de 90 militares no município da Ganda, província de Benguela.
Alguns aldeães, disseram a Voz da América que, a 17 de Julho, alguns efetivos da referida companhia, em conjunto com agentes da Polícia Nacional, efetuaram patrulhas na povoação de Bongola, comuna de Ebanga, criando um clima de intimidação na localidade. A patrulha mista, segundo testemunhas oculares, forçou o jovem João Guerra a despir a camisola da UNITA, em público.
Dois dias depois, a 19 de Julho, outra patrulha mista cercou a residência de um político da UNITA, Francisco Pereira, na aldeia de Kassamba, comuna de Ebanga, conforme depoimento prestado por testemunhas, visado encontrava-se ausente. Os militares e agentes policiais permaneceram no local das 13h00 às 17h00 horas.
De seguida, ainda de acordo com as mesmas testemunhas, os patrulheiros invadiram as residências de duas simpatizantes da UNITA, Filomena Domingas e Salomé Sambo. Retiraram-nas dos seus lares, sob ameaça de armas de fogo e as transportaram numa viatura militar.
As aldeães informaram ter sido abandonadas, a alguns quilômetros da aldeia. A situação criou pânico na aldeia, tendo originado a fuga de populares da aldeia de Kassamba para a Ganda.
O secretário municipal da UNITA na Ganda, Fernando Quintas Sachipala, disse à Voz da América, que a sua organização recebeu na sede municipal, na passada sexta-feira, sete dos seus militantes oriundos da aldeia de Kassamba.
Contactado pela VOA, o administrador municipal da Ganda, Caetano Mateus Lopes, disse desconhecer a informação da concentração de militares na comuna de Ebanga.
Já no município de Cassongue, província do Kwanza Sul, foi destacado um pelotão de cerca trinta homens que, desde o início deste mês, efetua rondas nas aldeias.
Populares disseram a VOA que, no dia 18 Julho, na comuna da Songa, município do Wako Kungo, as FAA proibiram a população de ir às suas lavras, sem, no entanto, terem apresentado qualquer justificação.
Na localidade, algumas pessoas começaram a associar a realização das eleições, a 31 de Agosto, com o retorno à violência política e começaram a armazenar alimentos e sal, como medida preventiva.
A população de Songa é maioritariamente deslocada de guerra, proveniente do município do Mungo, província do Huambo, uma região limítrofe.
Em declarações a Voz da América, Oliveira Miguel Kapata, secretário provincial da UNITA no Kwanza Sul, disse que o seu partido recebeu informações de que alguns populares começaram a regressar às suas zonas de origem (Mungo), devido ao clima de instabilidade que se regista na Songa.
As autoridades locais e o MPLA, no Kwanza Sul, não responderam às chamadas para comentar sobre o assunto. No entanto, uma fonte militar assegurou que as brigadas destacadas em alguns municípios de Benguela e Kwanza Sul pertencem à região militar, em Luanda. O oficial disse tratar-se de um destacamento normal, que nada tem a ver com o processo eleitoral, alegando que as brigadas não podem ficar num só local, têm de ser espalhadas.