Benguela:agricultor ameaçado de morte por falar à Voz da América

Chico da Silva, porta-voz da Cooperativa Tchipangalo começou a ser alvo de intimações desde que concedeu uma entrevista à Voz da América, manifestando a pretensão da sua organização em processar o governador do Huambo, Faustino Muteka, alegadamente por expropriação ilegal de terras e despejos forçados das comunidades camponesas.

Chico da Silva, porta-voz da Cooperativa Tchipangalo começou a ser alvo de intimações desde que concedeu uma entrevista à Voz da América, manifestando a pretensão da sua organização em processar o governador do Huambo, Faustino Muteka, alegadamente por expropriação ilegal de terras e despejos forçados das comunidades camponesas.

À VOA, Chico da Silva disse que dias depois da publicação da notícia por este órgão de comunicação, homens supostamente armados invadiram a sua residência à noite, tendo proferido ameaças de morte.

“ As pessoas que orientaram isso penso que deviam ter uma postura mais civilizada, tal como nós fizemos,” disse Chico da Silva, acrescentando que “ se eu tiver cometido algum crime, alguma difamação na entrevista, as pessoas devem processar e nós vamos responder”

A Cooperativa Tchipangalo tem vindo a lutar pela defesa dos direitos dos camponeses da comunidade da Etunda que perderam as suas terras.

Segundo aquela organização, os camponeses ficaram sem o terreno que garante o pasto a mais de 500 cabeças de gado do povo e foram destruídas as plantações de mandioca, milho e outras culturas, para se abrir caminho à implementação de um projecto imobiliário. As lavras perdidas serviam de suporte alimentar para mais de cinco mil famílias daquela comunidade, conforme explica um dos camponeses.

“ Estamos a sofrer! o tal campo com que nos remediávamos foi tirado, somos desempregados, não há mais nada que mata senão a fome,” lamentou um dos camponeses.

António Miguel, vive há 61 anos naquela comunidade. Disse que a brutalidade do governo angolano é pior que a do regime colonial português.

“ Nós sabíamos que para acabar com a fome tínhamos que produzir, mas hoje o governo nos tira as lavras. Quando é que vamos acabar com a fome no país,” questionou Miguel, afirmando com olhos cheios de lágrimas “ isso nos dói e dói mesmo”

A Cooperativa Tchipangalo alega que a aldeia da Etunda depara-se com uma privação ilícita de lavras de camponeses desde 2009.

A comunidade da Etunda diz que o governo apropriou bens da população da aldeia Etunda Melica obrigando cada família a receber o equivalente a 100 dólares por lavra e casa. Hoje a aldeia tornou-se numa fazenda agrícola.

Acusaram as autoridades governamentais de terem recorrido ao uso excessivo da força e prisões ilegais para reprimir os camponeses que protestavam contra a medida do governo.

A Voz da América tentou ouvir as autoridades da província, mas estas remeterem os pronunciamentos para a próxima quinta feira.