Analistas políticos moçambicanos dizem que as recentes declarações do Comandante Geral da Polícia, Bernardino Rafael, que apelou a população de Cabo Delgado a usar facas e catanas para combater o terrorismo, revelam que o Estado capitulou e eximiu-se da responsabilidade de garantir a defesa e segurança.
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“Quando eles entram nas nossas machambas o que nós temos que fazer é perseguir e resistirmos com faca, catana, zagaia, e nessa altura um tem que correr para comunicar as Forças de Defesa e Segurança”, disse , recentemente, em Bilibiza, no distrito de Quissanga.
Chamado a comentar, o ministro da Defesa, Cristóvão Chume, remeteu qualquer explicação a este apelo ao próprio Comandante da PRM, porém chamou atenção da população em relação a seriedade deste fenómeno.
Veja Também Moçambique e Tanzânia procuram formas de travar o terrorismo“Isso é que é o mais importante”, disse Chume, que acrescentou que “estamos organizados como Estado a defender a população e aonde nós não estivermos temos que trabalhar com a SADC, Ruanda para além da força local que tem dado um apoio substancial as Forças de Defesa e Segurança”.
Para o jornalista e analista Luís Nhachote, as declarações de Bernardino Rafael revelam que o Estado capitulou na missão de defesa da população.
“Quando a Comandante Geral da PRM vai a Cabo Delgado e diz isso está a mostrar que Estado eximiu-se do seu papel, capitulou e não tem capacidade para proteger os seus cidadãos,” disse Nhachote.
Nhachote disse que “este tipo de declarações que soa até um pouco de leviandade, mas não deixa de ser estranho que o Estado, na voz do Comandante em Chefe das Forças de Defesa e Segurança que é o Presidente Filipe Nyusi, tem estado de forma sistemática a apelar para que a Total regresse para Palma, porque já existem condições mínimas de defesa e segurança, é um pouco bizarro”.
Protagonismo
Quem também alinha pelo mesmo diapasão é o advogado e defensor dos Direitos Humanos, Custódio Duma.
“Retirar essa responsabilidade do Estado para o cidadão significa o Estado exonerara-se da sua função de garantir a segurança, numa circunstância em que até as nossas forças de defesa e segurança incluindo as forças da SADC e do Ruanda não estão a conseguir enfrentar o terrorismo”, comentou Duma.
Por outro lado, Nhachote disse que as declarações de Rafael revelam ainda a busca pelo protagonismo no combate ao terrorismo.
Quem está a dirigir e é o principal actor no combate ao terrorismo naquela província? É o Comando Geral da Polícia ou o Exército Moçambicano? Penso que é o Exército que é o principal actor, vamos notar que nas últimas declarações do Ministro da Defesa mostra-se aborrecido com este tipo de protagonismo”, comentou Nhachote.