Análise: Sem mudança de políticas públicas, a situação em Cabo Delgado pode não melhorar

Campo de deslocados 25 Junho, Metuge, Cabo Delgado

As Nações Unidas dizem-se preocupadas com o aumento do número de deslocados de guerra em Cabo Delgado, e vão aumentar a ajuda humanitária, mas para analistas todo o apoio vai ser insuficiente se não houver mudanças ao nível das políticas públicas e se o conflito militar não terminar.

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Análise: Sem mudança de políticas públicas, a situação em Cabo Delgado pode não melhorar

A coordenadora-residente das Nações Unidas em Moçambique, Myrta Kaulard, afirmou que o número de pessoas que fogem dos ataques continua a crescer, sublinhando que receia que a situação humanitária se agrave, com o início da época chuvosa.

"Temos que reforçar o nosso apoio, e nesta questão da assistência humanitária, particular atenção tem de ser dada à criação de condições de abrigo para as pessoas", disse Kaulard.

Entretanto, o director do Centro de Integridade Pública (CIP), Edson Cortez, disse que esse apoio é necessário, mas porque um dia vai ter que acabar, a solução para Cabo Delgado, em particular e toda a zona norte de Moçambique, em geral, passa por o Governo mudar as suas políticas públicas.

Cortez realçou que "é preciso mudar as políticas públicas no sentido de criar o desenvolvimento nas províncias do norte do país, de modo a reduzir o descontentamento social e focos de potencial conflito".

O Governo diz-se empenhado em esforços para resolver essas questões, mas João Feijó, pesquisador do Observatório do Meio Rural, não nota nenhum esforço nesse sentido.

Feijó avançou que "ninguém neste país quer resolver o problema das desigualdades; temos cada vez mais desigualdades no acesso à saúde e ao ensino; criam-se duas cidadanias completamente desiguais, a primeira que pode ir ao ensino e à saúde privados ou ao estrangeiro, e a outra que não tem acesso algum a estes serviços".

Por seu turno, o economista João Mosca considera que, no caso particular de Cabo Delgado, para melhorar esses aspectos, "é preciso acabar com a guerra, e isso é algo imprevisível, porque há muitos interesses em jogo".

Entretanto, a ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo, disse que o Governo está a mobilizar os parceiros para investirem em Cabo Delgado, a começar por pequenos investimentos; estamos a trabalhar para que não haja radicalização de jovens".

Refira-se que esta sexta-feira, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi entregou barcos de pesca a 25 associação de pescadores de Metuge, um dos distritos que acolhem pessoas que fogem de ataques armados nas regiões centro e norte de Cabo Delgado.