O jornalista free lancer e editor do blog Ditadura de Consenso, António Aly Silva, acusa o Presidente da Guiné-Bissau de ser o responsável pelo seu sequestro e espancamento na terça-feira, 9, na capital do país.
Ele descreve um país de terror e critica a comunidade internacional, apontando o dedo ao secretário-geral da ONU que, segundo diz, apoiou um golpe de Estado na Guiné-Bissau.
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“O Presidente da Republica autoproclamado porque a única pessoa a ameaçar-me é ele, e quando acontece uma coisa temos de virar para o foco da ameaça”, afirma à VOA a partir de Bissau.
Um dia depois do seu sequestro e espancamento, António Aly Silva fala com alguma dificuldade por ter “a língua cortada”, tendo acordado “pior, com um olho mais vermelho, os inchaços da cabeça aumentaram..".
Apesar da agressão, Silva garante que não vai deixar o país e que ninguém terá o prazer de o ver pelas costas.
“Circulo livremente, ontem fui buscar o meu carro lá onde fui raptado, hoje de manhã andei por Bissau, fui beber o meu café”, afirmou reiterando que continuará em Bissau.
“Até morrer, muita gente quer que eu saia da Guiné para ir tratar, mas eu não vou sair do meu país obrigado, não vou dar a ninguém a alegria de me ver pelas costas. Este é o meu país, eu não tenho outro, como não tenho outra nacionalidade”, garante Aly Silva que nesta quarta-feira recebeu a visita da Comissão Parlamentar de Defesa e dos Direitos Humanos e um telefonema do presidente de Assembleia Nacional Popular que se solidarizou com ele.
Questionado sobre o futuro da Guiné-Bissau, o jornalista é peremptório ao dizer que a situação vai piorar.
“Escrevi há menos de um mês que não tarda nada vamos apanhar corpos nas sarjetas de Bissau, isso nao tarda, as pessoas vagueiam, parece que vivemos num cemitério aberto, vivemos o pior momento da nossa história se é que temos história, parece que ficou na luta de libetação, o país está mal, vivemos num pais de terror”, diz.
António Aly Silva aponta o dedo à comunidade internacional, nomeadamente o secretário-geral da ONU que, “do alto do seu pedestal, diz que está preocupado com a violência no Senegal e apoia o golpe na Guiné-Bissau”.
“Estamos conversados”, remata Silva, quem não deixa de lamentar o silêncio do Sindicato dos Jornalistas de Portugal, embora seja possuidor de um cartão profissional válido da organização, ao contrário, como refere, a Associação dos Jornalistas de Cabo Verde e de órgãos de vários países.
O rapto e espancamento de António Aly Silva teve uma condenação praticamente unânime na Guiné-Bissau, com 23 organizações da sociedade civil, agrupadas do Espaço de Conmcertação, a pedir a demissão do ministro do Interior e da Ordem Pública, bem como do Procurador-Geral da República.
No entanto, até agora, não houve qualquer reacção do Presidente da República, acusado directamente pelo jornalista, do Governo ou da Procuradoria Geral da República.