António Monteiro frustrado com a ONU em 1992
O embaixador português António Monteiro disse à VOA que, se fosse hoje, não teria havido guerra após as eleições angolanas de 1992 porque a ONU teria tomado medidas firmes para o impedir.
Monteiro falava à Voz da América no 20º aniversário dos acordos de paz de Bicesse. O diplomata português foi o braço direito de Durão Barroso, o mediador dos acordos assinados pela UNITA e pelo governo de Angola.
Bicesse "não foi um processo fácil", disse António Monteiro, sublinhando que a guerra civil foi "dura" e deixou marcas profundas nos seus intervenientes e no país, congratulando-se, todavia, por ser possível hoje ter "confiança" no futuro de Angola.
O acordo de paz, segundo ele, foi a "prova de que, com ajuda, os angolanos podiam gerir, eles próprios, o seu destino".
Nos termos do acordo, o MPLA abandonou o marxismo-leninismo, que deixou, também de ser a idelogogia oficial do Estado, e a UNITA comprometeu-se a aceitar as instituições do Estado assim como, junto com o MPLA e o governo, os resultados das eleições, supervisionadas pelas Nações Unidas.
Após as eleições, que o MPLA e José Eduardo dos Santos venceram, a UNITA alegou fraude eleitoral e rejeitou os resultados, inviabilizando a realização da segunda volta das presidenciais.
A ONU validou os resultados e as eleições como "em geral livres e justas", mas semanas depois Angola regressou à guerra, como consequência da rejeição dos resultados, que o embaixador Monteiro descreve como "uma decisão pessoal do Dr. Savimbi".
António Monteiro entende que, em 1992, o Conselho de Segurança da ONU "não tinha a mesma consistência" que mostrou este ano, na Costa do Marfim. O processo de paz angolano, disse, teria hoje um desfecho diferente.
Considerou "frustrante" a passividade dos orgãos da ONU face ao afundamento do processo eleitoral angolano de 1992, que tinha decorido dentro das normas exigidias pela comunidade internacional.
Para o diplomata português, a ONU está hoje mais firme na defesa dos seus valores e mostrou-o na Costa do Marfim, em defesa dos resultados de um processo eleitoral legitimo.
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