O antigo primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, disse em recentes entrevistas não estar satisfeito com o rumo que o Governo está a dar à gestão do país em vários domínios e acusou o Executivo de Ulisses Correia e Silva de aplicar uma política neo-liberal, que tem entregue sectores estratégicos, como o transporte aéreo, a empresas estrangeiras.
Em resposta, o actual Chefe do Governo lembrou que o "socialismo escalavrado" de Neves colocou as empresas públicas em falência e apontou que o antigo primeiro-ministro falou como candidato à Presidência da República.
O "fogo cruzado" entre Neves e Coreia e Silva tem provocado as mais diversas leituras.
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Para o jornalista e professor universitário Carlos Santos, os posicionamentos do antigo primeiro-ministro "não devem ser vistos como uma mera troca de farpas com o Governo liderado por Ulisses Correia e Silva, mas sim uma estratégia de Neves para se colocar na pole position como candidato às próximas eleições presidenciais".
Para Santos, desde que Neves saiu do Governo, sempre comentou na sua pagina do Facebook os principais assuntos da vida politica nacional, incluindo fazendo reparos à maneira como o seu partido, o PAICV, tem feito a oposição.
No que se refere à forma como Ulisses Correia e Silva tem chefiado o Governo, Carlos Santos entende que, com a remodelação do Executivo em que Olavo Correia foi promovido a vice-primeiro-ministro, com a coordenação das áreas económicas e finanças, e Fernando Elísio Freire, a ministro de Estado, com a coordenação politica, "ficam sinais de que Correia e Silva estará a resguardar-se para alguma coisa".
Leitura diferente tem o analista João de Deus Carvalho Silva que não considera que José Maria Neves tenha pretensões de ser candidato às eleições presidenciais em 2021.
Para Carvalho Silva, Neves gosta mais do Executivo, funções que o chefe de Estado não tem em Cabo Verde.
Quanto Ulisses Correia e Silva, apesar de reforçar a sua equipa governativa com um vice-primeiro-ministro e um ministro de Estado, o analista não acredita que isso seja sinal claro de que o líder do Governo esteja a preparar caminho para entrar na corrida presidencial, uma vez que na família MpD, partido no poder, existem outras personalidades, nomeadamente o antigo primeiro-ministro e ex-candidato presidencial Carlos Veiga e Jorge Santos, actual presidente do Parlamento, como potenciais candidatos.
Quando às críticas de Neves ao modelo do actual Executivo, Carvalho e Silva entende tratar-se de uma situação normal, feitas por um ex-chefe de Governo, que também fala de forma "pouco acutilante” como a oposição está a ser exercida.