Quase 2/3 dos angolanos, cerca de 64% dos cidadãos, consideram que os órgãos de comunicação social devem investigar e noticiar, com frequência, erros do Governo e casos de corrupção, numa rejeição ao que chamam de restrições do Executivo em matéria de direito à informação.
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Os dados são o resultado de uma pesquisa do Afrobarómetro, uma rede de pesquisa pan-africana representada em Angola, que auscultou 1.200 angolanos entre Fevereiro e Março de 2022, mais de um ano após o último estudo sobre a liberdade de imprensa.
Esta pesquisa, com uma margem de erro de 3% e 95% de nível de confiança, mostra que uma maioria insiste na liberdade de imprensa, acesso do público a contratos entre Governo e empresas privadas e mais abordagens sobre casos de corrupção e falhas nas políticas públicas.
A televisão e a rádio continuam a ser as fontes de notícias mais populares em Angola, mas as redes sociais estão por perto, especialmente entre os jovens, conforme adianta o estudo, para o qual foram entrevistados cidadãos adultos de diferentes províncias.
À Voz da América, o politólogo Carlos Pacatolo, pesquisador do Afrobarómetro, avisa que os angolanos dizem que estão cansados das restrições no acesso a um direito constitucional.
“Isso exige do Governo e dos jornalistas alguma atitude, sendo da parte do Governo a necessidade de alguma contenção em relação à excessiva regulação, restrição da liberdade de informar e liberdade de acesso às fontes”, disse fazendo notar que o “direito à informação fica beliscados sem liberdade de acesso às fontes, sem pluralismo editorial”
O académico lamenta que o país não esteja a conhecer melhorias, lembrando uma pesquisa similar um ano antes e acrescentou que “a ideia geral é que se a situação hoje é preocupante , não é diferente do que era há um ano, os dados continuam actuais, não houve melhorias tanto assim”.
Nada que surpreenda o analista e jornalista Ilídio Manuel, que aponta a posição de Angola no raking dos Repórteres sem Fronteiras para sustentar o que chama de controlo excessivo do Governo.
“Já é do domínio público que a comunicação social continua sob um excessivo controlo governamental e que o pouco conseguido, a partir da chegada de João Lourenço ao poder, foi-se esvaindo, e estamos numa situação pior daquela que vivemos na era de José Eduardo dos Santos”, afirmou notando que “caímos no raking dos RSF , aí uns 26 lugares, é muito para um país que esperava mudanças neste capítulo”.
A propósito da pesquisa do Afrobarómetro, que em Angola tem parceria com a organização Ovilongwa – Estudos de Opinião Pública, a Voz da América contactou o director nacional da Comunicação Social, João Demba, que disse que não comentava sem ter acesso ao essencial do documento.
Após o envio, como solicitado pelo dirigente, prevaleceu o silêncio, pelo menos até agora.
Em Maio, por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, o secretário de Estado para Comunicação Social, Nuno Caldas, tinha solicitado rigor no exercício do jornalismo, lembrando o contraditório como parte de uma cultura de responsabilidade dos actores.