O ano de 2019 será certamente para esquecer. Muitas famílias angolanas para além de perderem o emprego, perderam consequentemente o poder de compra dado o aumento acentuado do preço dos produtos da cesta básica no mercado, o agravamento da situação económica do país em geral e com a moeda nacional, o kwanza, a perder o seu valor dia após dia.
Para os que ainda têm um emprego, o agravamento dos preços dos produtos da cesta básica, que não foi acompanhado pelo aumento salarial, num país onde 34 mil kwanzas é o que se paga a um funcionário público do escalão de base.
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O aumento considerável dos preços dos produtos da cesta básica forçou “as donas de casa” a optarem por um novo método de compra nos armazéns grossistas. O método chamado por “sócia”, pressupõe a junção de dinheiro entre pessoas que queiram adquirir o mesmo produto. Adquirem em caixa para depois repartirem de forma equitativa.
“O saco de 25 quilogramas de arroz custa 12.500,00 (doze mil e quinhentos kwanzas), o de fuba 8.000,00 (oito mil kwanzas) 25 Kg. Um dos produtos cuja procura aumentou nesta quadra festiva é a farinha de trigo, cujo saco de 50 quilogramas está custar 16.000,00 (dezasseis mil kwanzas), o cartão de ovo 2.500,00 (dois mil e quinhentos kwanzas), o açúcar 13.000,00 (treze mil kwanzas) o saco de 50 kg. A lata de leite de 1800 gramas custa 12.000,00 (doze mil kwanzas). De igual forma subiu o preço do saco de batata rena de 8 kg que custa actualmente 5.000,00 (cinco mil kwanzas), a caixa de peixe fresco de 25 kg, são 25.000,00 (vinte e cinco mil kwanzas), já a caixa de óleo vegetal está custar 9.000,00 (nove mil kwanzas) ao passo que a caixa de tomate são 16.000,00 (dezasseis mil kwanzas)”.
Preocupada com o actual quadro económico do país, Iracelma Fernandes, munícipe de Viana, revela que no seu município a maior preocupação é a saúde e a paz, sendo que a população perdeu na batalha financeira da compra de bens alimentício para manter o tradicional jantar de celebração do dia da família na noite de 24 para 25 de Dezembro.
Os citadinos pedem uma pronta intervenção da polícia fiscal para travar a especulação dos preços no mercado nesta quadra festiva.
“Nós vimos a cada dia que passa os preços dos produtos da cesta básica a dispararem de forma absurda tanto no mercado formal como informal e a polícia económica não se pronuncia quanto a isto, estando a população a adquirir os seus bens ao preço dos olhos da cara. Há uma necessidade proeminente de termos políticas concretas e rápidas para sairmos deste dilema que estamos a viver actualmente na nossa sociedade. O camarada Presidente prometeu para juventude 500 mil empregos na fase de campanha política e até agora não estamos a ver estes empregos”, reportaram.
Quando o assunto tem que ver com ocupação profissional, os jovens já não falam em emprego formal, mas em biscates. É nos biscates onde parte considerável da juventude em Luanda encontra a garantia de sustento para família.
O impacto das políticas do Estado de fomento ao emprego não é sentido pelos jovens do Município do Kilamba Kiaxi, que colocando o dedo na ferida, falam em problemas sociais graves, como a falta de alimentação e o estado precário de saúde de muitas famílias que fazem apenas uma refeição por dia.
Pedro António, munícipe do Bairro Golf I, fala em políticas de desenvolvimento fracassadas que não dão resposta aos verdadeiros problemas da comunidade, dentre estes o saneamento básico, as vias de comunicação rodoviária e o emprego, que na sua opinião só existe para quem pertence à elite.
“Não se sente o verdadeiro impacto das políticas que são criadas, isto se têm sido criadas políticas. Os empregos tinham que ser mais abrangentes e não para uma determinada elite. As vias rodoviárias são um problema muito grave e que causam muitos constrangimentos”, disse o munícipe que mais adiante acrescentou que “temos famílias que diariamente só tem uma refeição e que não é tão reforçada que compensa as outras que faltam. Temos crianças aqui com má nutrição e isto é visível a olhos nus, basta submetê-las a um clínico geral para comprovar isto”, concluiu.
A desvalorização do kwanza face a moeda estrangeira, está igualmente a contribuir para ao agravamento da situação económica das famílias, com particular incidência sobre os preços dos produtos no mercado.
O jornalista e analista social Fernando Guelengue refere que o Estado através dos seus órgãos de fiscalização de preços deve ser mais interventivo, dado o momento precário do ponto de vista sócio-económico, que Angola vive. Para o também autor do Livro “Pobreza: o epicentro da exploração de menores em Angola”, há tendência dos preços subirem dado o aumento da procura e se manter no próximo ano, daí a necessidade de uma mão pesada das autoridades sobre os autores da especulação de preços.
Uma das medidas necessárias para garantia de uma quadra festiva estável é a fiscalização. O Governo através dos seus órgãos de fiscalização deve garantir a baixa de preços dos produtos formais e informais. Não fique apenas na teoria, ou seja, mandar uma bocas na comunicação social, isto não será suficiente”, disse.
É importante a criação de brigadas de fiscalização de preços nos mercados para controlar e penalizar os operadores comerciais que especularem os preços dos produtos, sobretudo os da cesta básica e mais concorridos na fase final do ano, chamou atenção o também Secretário Executivo da Associação Científica de Angola.
Nos últimos três meses têm se registado em Angola um considerável aumento do índice de crimes violentos, com recurso a armas de fogo e em plena via pública. Uma situação publicamente ignorada pela Polícia Nacional, alegando que se tratam de casos isolados e que tem a situação controlada. Para a garantia de uma quadra festiva em segurança os órgãos de defesa e segurança pública asseguraram a colocação de mais de 5 mil efectivos nas ruas para contrapor qualquer acto que ponham em causa a paz, a segurança e a tranquilidade no país.
O analista social e Secretário Executivo da ACA-Associação Científica de Angola, Fernando Guelengue, chama atenção das autoridades sobre o risco do situação sócio-económico do país motivar a prática de acções criminosas. Por outro lado, sobre o facto de muitos cidadãos perderem o poder de compra ter como consequência igualmente o aumento do índice de criminalidade, para além do que está previsto, sobretudo nesta quadra festiva onde frustrados com a necessidade de satisfazer as suas preocupações pessoais e familiares muitos poderão optar por métodos pouco ortodoxo para aquisição de bens.
“Não havendo garantias de uma quadra festiva estável, poderá aumentar o índice de criminalidade. Porque não tendo recursos por meio de um emprego formal ou não, muitos poderão optar pela aquisição de bens através de métodos inadequados. Isto já tem se registado embora de forma tímida, mas poderá acentuar-se na quadra festiva. Esta tendência deverá obrigar a Polícia nacional a redobrar os seus métodos de segurança durante este período”, explicou.
Reconhecendo a situação económica por que passa o país e o consequente aumento dos preços dos produtos da cesta básica, os citadinos apelam a calma, paz, o espírito de partilha e de solidariedade nesta quadra festiva que “cada família deve se sentir satisfeita com o que têm. Que cada um partilhe o pouco que tem com quem não tem nada, assim poderemos equilibrar a situação de muitas famílias”.