Angola: Salário mínimo aumenta, mas ainda é muito baixo

Produtos lácteos, Kwanza Sul, Angola

Sindicalista e economista alertam que preços dos produtos da cesta básica podem aumentar, reduzindo o poder de compra dos funcionários públicos

Após duas greves, o Governo angolano aceitou aumentar o salário mínimo na Função Pública para 100 mil kwanzas (cerca de 115 dólares).

O secretário de Estado para o Trabalho e Segurança Social, Pedro Filipe, disse recentemente em Luanda que essa atualização salarial arranca já neste mês.

Your browser doesn’t support HTML5

Funcionários dizem que salario mínimo de 100.000 Kwanzas não chega - 2:44

A Função Pública em Angola tem 811.991 trabalhadores, dos quais aproximadamente 100 mil recebem salários inferiores a 100 mil kwanzas (115 dólares).

Veja Também Acordo entre Governo e sindicatos "não satisfaz" e é "conjuntural", diz presidente do Sindicato Nacional dos Médicos

João de Deus, funcionário público na área de segurança e pai de 12 filhos, recebe um salário de 92 mil kwanzas, aproximadamente 100 dólares.

Para ele, um aumento salarial para 100 mil kwanzas ainda seria insuficiente para cobrir suas despesas mensais.

Veja Também Angola tem o salário mínimo mais baixo entre os lusófonos em África

“Mesmo que suba para 100 mil kwanzas, não vai chegar com as minhas responsabilidades que eu tenho”, questionado, "Tio João", como é carinhosamente chamado, respondeu que “a cesta básica está mais alterada do que o salário que eu ganho”.

“Não tem como fazer”, lamentou aquele funcionárioi, acrescentando que para um salário digno enquanto segurança teria de ganhar “pelo menos, 250 mil".

Veja Também Angola: Greve na administração pública com impactos na economia e na política

Teixeira Cândido, porta-voz das centrais sindicais, lembra que os sindicatos queriam mais do que 100 mil kwanzas, , mas reconhece que, infelizmente, a conjuntura económica não ajudou.

"Representa um progresso, é duas vezes mais do que o salário de hoje, ou seja, o atual. Portanto, da nossa parte é que, sim, há uma evolução e que pode representar alguma capacidade para os trabalhadores adquirirem alguma coisa que não conseguiam fazer com os 32 mil kwanzas, mas obviamente que está ainda muito distante de poder ser suficiente para os trabalhadores angolanos poderem adquirir os bens necessários, ou seja, para a base”, aponta Teixeira Cândido.

Aquele sindicalista alerta que este aumento salarial pode alterar os preços dos produtos da cesta básica, mas acrescenta que "a nossa expetativa é que o Governo seja capaz de lidar com essa situação”.

Além dos mais de 100 mil beneficiários, conforme dados do Executivo, existem também outras categorias beneficiadas, como os professores universitários.

O economista Anastácio Domingos admite também que poss haver um aumento dos preços dos produtos.

“É sempre bom aumentar salário, até porque, fazendo uma comparação, os salários de angola são os mais baixos, existe, outras variáveis que têm contribuído para o aumento da cesta básica... ", afirma Domingos.

Este aumento salarial surge depois de duas últimas paralizações levadas a cabo pelas três centrais sindicais - Central Geral de Sindicatos Independentes e Livres de Angola (CGSILA), a União Nacional dos Trabalhadores Angolanos - Confederação Sindical (UNTA-CS) e a Força Sindical - Central Sindical (FS-CS).

No final Governo e sindicatos chegaram a um acordo sobre os principais pontos do caderno reivindicativo entregue ao Executivo há muito tempo.