Angola: Quando as mulheres vão ser tratadas com respeito e igualdade?

  • Danielle Stescki

Sarhai Costa, grafiteira e artista plástica angolana

"A nossa luta não é com o homem, é com a sociedade", explicou a artista plástica e grafiteira Sarhai Costa.

Sarhai Costa trabalha profissionalmente desde 2016. É artista plástica, grafiteira e membro do coletivo Verkron, um grupo de artistas angolanos criado em 2010. Em entrevista à Voz da América, falou do grafite em Angola, das suas obras, dos desafios que enfrenta no seu trabalho por ser mulher e dos planos para o futuro.

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Sarhai Costa: "A nossa luta não é com o homem, é com a sociedade"

Algumas pessoas confundem a arte urbana do grafite com vandalismo. Sarhai Costa diz que ocasionalmente dialoga com pessoas sobre o assunto.

"Eu vivo numa sociedade muito machista, então tem vezes que prefiro ouvir e não me meter".

Grafiteira e artista plástica Sarhai Costa a trabalhar em Luanda

Quando a artista está a trabalhar sozinha ouve perguntas como: "O que uma mulher está a fazer aqui? Como é que uma mulher faz isso?" Ela contou que geralmente esses comentários vem de homens mais velhos. Querendo ou não, a exposição a esse tipo de opiniões afeta Costa.

"Me sinto presa e restrita por não conseguir ir em certo sítio fazer o grafite sozinha por saber que sou mulher e vou sofrer assédio. Vou tá lá à mercê de homens que não entendem que as mulheres são livres".

A artista plástica e grafiteira disse que dá para viver de arte em Angola. Ela calcula que produz em torno de 10 criações por mês, contando pequenos cadernos, livros e plásticos.

Obra "Woman" da grafiteira e artista plástica angolana Sarhai Costa

Uma característica das obras de Costa é que os seus desenhos sempre trazem a história de várias mulheres. A obra "Woman," por exemplo, tem um círculo ao redor de um punho que representa a ligação que as mulheres têm umas com as outras. Já as folhas representam a simplicidade e a beleza da mulher. A grafiteira explicou que quando criou esta obra estava próxima a uma pessoa que sofria agressões do marido.

"Decidi criar esta obra para dizer que a mulher tem força. Que a mulher consegue parar de chorar e lutar por aquilo que acredita, que são os seus direitos. Logo que uma pessoa olha para "Woman" tem que pensar: eu sou mulher, não posso chorar. Chega de me lamentar. Tá na hora de lutar. Tá na hora de agir. Tá na hora de correr atrás dos meus sonhos, dos meus objetivos. Eu também posso!"

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Sarhai Costa disse que se sente presa e restrita quando vai trabalhar sozinha porque é mulher e vai sofrer assédio

Como muitas pessoas ao redor do mundo, a artista está em casa praticando o distanciamento social. Ela está aproveitando para organizar as ideias, pois gostaria de tornar a sua casa em uma galeria, e quem sabe fazer uma exposição individual.

Sarhai Costa deixou uma mensagem para as mulheres: "Temos que nos unir mais. Temos que ser cada vez mais cuidadosas conosco, com a nossa essência, com aquilo que nós queremos. Deixar a sociedade machista destruída, sem destruir os homens, claro. A nossa luta não é com o homem, é com a sociedade, aquilo que foi passado de geração para geração. Então, mulheres, temos que nos erguer para lutar contra isso."

Mulheres: "Temos que nos unir mais," pede Sarhai Costa