Angola assinala no próximo dia 11 de Novembro 40 anos de independência. Várias actividades têm sido desenvolvidas no quadro das celebrações da efeméride. Porém a sociedade civil está preocupada com os discursos de retorno à guerra e com a ausência da verdadeira reconciliação entre os angolanos, sobretudo no seio dos actores políticos.
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Os discursos de retorno à guerra atribuídos à UNITA, pelo MPLA, partido no poder em Angola, na visão do Director do Centro de Estudos Populorum Progressio, Domingos das Neves, contribui para ausência de paz social no seio dos angolanos. O também jurista entende que tais discursos políticos são «irresponsáveis e desnecessários» numa sociedade como a angolana, que conhece os dissabores de um conflito armado, daí que chama atenção para responsabilidade dos políticos a este respeito.
«Acho retrogrado, acho até estupidez, passo a expressão, aquelas pessoas que não sei por qual tipo de interesse, volta e meia sufocam as mentes, os ouvidos das pessoas que estão ansiosas e já estão preocupadas com o pão nosso de cada dia, começarem a ser assustadas com este tipo de discursos que até são infantis, no meu ponto de vista», disse.
Para o Jurista o assunto é de tal modo sério que também cabe responsabilidade à sociedade civil. «Em alguns casos os ambientes das igrejas estão muito condicionados ao mundo político».
A paz e a reconciliação nacional são dois valores que antecedem a política na visão do Director do Centro de Estudos Populorum Progressio, que por outro lado considera estes bens inseparáveis. Domingos das Neves pensa que a reconciliação nacional é um processo longo e que no país ainda não teve início, por isso defende a realização de um trabalho conjunto.
«Temos que começar a juntar os esforços. Primeiro acreditar que é possível fazermos alguma coisa juntos, porque se nós não conseguirmos trabalhar, conversar e estar juntos penso que a paz fica muito mais fragilizada», sublinhou.
O assunto reconciliação nacional ainda é de muita sensibilidade para os angolanos apesar dos 13 anos de paz, após um período de quase 30 anos de guerra que devastou o país.
A sensibilidade do assunto «paz e reconciliação nacional» reflecte-se nos discursos de muitos actores políticos, na opinião do Coordenador do Centro de Estudos e Debates Académicos, para quem ainda existem no país muitas almas magoadas.
Agostinho Sikato entende que deve haver em Angola uma reconciliação plena que passa pela aceitação e respeito do outro. Neste aspecto, diz o analista os políticos precisam ser exemplar.
«É preciso que haja uma reconciliação plena que passa pela aceitação do seu próximo. Hoje os partidos políticos ainda pejoram-se uns aos outros. “No dia-a-dia nota-se que os políticos em determinadas vezes não são exemplos».
A reconciliação nacional foi tema de debate durante as jornadas parlamentares conjunta dos partidos da oposição em Angola, que teve lugar em Luanda nos dias 8 e 9 do corrente. O principal animador deste tema na conferência bastante concorrida por académicos, políticos e nalistas foi o Bispo Emérito da diocese do Huambo.
Dom Francisco Viti defendeu a promoção de uma política verdadeira e madura que apesar da oposição «prima pelo respeito e pela escuta do outro».
O prelado entende que a reconciliação nacional revela-se pelo retorno dos corações entre os irmãos desavindos pelo mal que foi feito entre ambos. Porém, Dom Viti sublinhou a necessidade de cessão das trocas de acusações.
«Enquanto não haver o retorno dos corações como família única de angolanos, e haver acusações de culpados e inocentes nunca Angola será unida e reconciliada», destacou.
Os casos de intolerância políticos envolvendo militantes das duas forças políticas rivais, o MPLA e a UNITA, têm resultado em mortes, daí que o Coordenador do Centro de Debates e Estudos Académicos Agostinho Sikato entenda que tais situações são motivadas pela ausência de reconciliação, que pressupõe que seja um trabalho sério e profundo, no qual toda sociedade deve estar envolvida.
Ainda na sua intervenção nas jornadas parlamentares dos partidos da oposição, Dom Francisco Viti considerou a conotação pejorativa e a atribuição de culpas como elementos que impedem a coesão fraterna e conduz o país à calúnias que para além de perpetuar o adiamento da consolidação da paz e da reconciliação que todos aspiram, pode ceifar vidas humanas.
O Coordenador do Centro de Debates e Estudos Académicos defende que para caso de exemplo de moral para promoção da paz e da reconciliação nacional é importante que se tome como exemplo as Forças Armadas Angolana que congrega elementos provenientes das forças militares de quatro exércitos diferentes nomeadamente as FALA, ELNA, as FAPLA e a FLEC anteriormente pertencentes a forças políticas diferentes.
«A convivência é conjuntural e achamos nós que as Forças Armadas têm um exemplo de moral a dar até a própria sociedade política, pelas seguintes razões: Primeiro é que o nosso exército é dividido por diferentes etnias, juntaram , criaram uma única ideologia que é da defesa nacional. Encostaram de lado as suas divisões étnolinguistas e etnoculturais e procuram conviver no mesmo sítio. «Estamos a falar de homens que durante muito tempo andaram com armas, eram inimigos», explicou.