Angola: Pequenos empreendedores relatam um mar de dificuldades para manter as portas abertas

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Tomate e repolho, produtos da cesta básica angolana, à venda num mercado em Luanda.

Falta de financiamento tem levado muitos negócios à falência

Pequenos empreendedores em Angola relatam dificuldades em se manter no mercado face ao quadro económico que ameaça os poucos negócios ainda existentes.

Da confeitaria às pequenas indústrias, a redução nas vendas provocada pelo fraco poder de compra, o aumento dos custos de produção e as dificuldades de acesso aos créditos desafiam até quem está a começar o negócio.

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Angola: Pequenos empreendedores relatam um mar de dificuldades para manter as portas abertas

Na Huíla, Germana Lussati é confeiteira e fala de um contexto difícil.

“Até ao momento, enfrentamos certas dificuldades tais como a diminuição da demanda, aumento dos custos, concorrência acirrada e sabemos que com a crise muitos empreendedores tentaram se reinventar”, diz Lussati.

Laurindo Marcolino gere um negócio familiar há 10 anos no ramo da relojoaria.

Apesar das várias iniciativas de acesso ao crédito postas à disposição pelo Governo através da banca comercial, Marcolino ainda sonha pelo primeiro financiamento.

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“Almejamos ter um crédito para alavancar os nossos negócios, visto que nenhum dos negócios em Angola cresce tão rápido enquanto não houver um financiamento. Estamos expectantes continuamos a recorrer temos a papelada toda organizada”, afirma Marcolino.

O economista Altino Silvano olha para as dificuldades de acesso ao crédito em Angola para descrever um mercado financeiro “incomum”, que começa a desfazer-se do seu verdadeiro papel no estímulo à economia.

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“Lamentavelmente, o sistema financeiro angolano não olha para as famílias nem tão pouco para os proprietários das pequenas e médias empresas em Angola. Todos aqueles que até então conseguiram algum financiamento foi sempre porque houve uma forte intervenção do Governo neste mercado porque os bancos não estão dispostos a conceder empréstimos às famílias e as pequenas empresas”, aponta Silvano.

Para o economista Samuel Candundo, a problemática do acesso ao crédito é incompatível com a instabilidade macroeconómica que tem marcado a economia do país nos últimos anos.

Embora existam incentivos, Candundo considera que eles acabam por não estar à disposição de todos, principalmente para os pequenos negócios.

"Os bancos também estão de certa forma muito precavidos porque a taxa de crédito malparado na economia é muito alta na banca comercial, há muitos empréstimos que foram concedidos e não foram devolvidos, para além de que há determinadas exigências, o negócio do banco é emprestar dinheiro mas o dinheiro tem que voltar porque o dinheiro não é dos bancos o dinheiro é dos depositantes”, explica aquele economista.

O Fundo de Garantia de Crédito (FGC) é um dos últimos instrumentos financeiros criados pelo Executivo para alavancar os pequenos negócios em Angola.