Organizações não-governamentais em Angola que trabalham na promoção e proteção dos direitos dizem que continuam ativas, mas num contexto cada vez mais apertado relativamente à obtenção de financiamento.
A conclusão surge quando o Parlamento tem na agenda a proposta de Lei do Estatuto das Organizações Não-Governamentais vista por muitas como uma “carta-branca” que o Executivo encontrou para extinguir, quando quiser, as organizações.
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Domingos Francisco Fingo, da Associação Construindo Comunidades, (ACC), com sede no Lubango, admite que está cada vez mais difícil operar face às limitações, mas que a organização está empenhada em defender comunidades rurais vulneráveis contra a ocupação ilegal de terras e que os ganhos são, atualmente, visíveis.
“Depois de muito trabalho que tivemos aqui na região Sul, fundamentalmente Huíla, Namibe e Cuando Cubango, na verdade essa tendência de usurpação das terras comunitárias está reduzida, nós estamos a despertar as populações das comunidades rurais para que saibam como defender os seus direitos”, afirma Pingo.
Para o presidente de direção da Associação Justiça, Paz e Democracia, (AJPD), Serra Bango, contam-se pouco mais de 20 as organizações que hoje trabalham na temática dos direitos humanos umas com mais e outras com menos exposição.
O líder associativo, com base em Luanda, considera que o financiamento estrangeiro que agora em muitos casos é repartido com o governo, através de diferentes programas, trouxe outros desafios às organizações.
Serra Bango considera que na consciência jurídica o cidadão está a ganhar uma ferramenta positiva para a reivindicação dos seus direitos.
“A defesa pela reivindicação pelos direitos cívicos e políticos já não é feita só pelas organizações, os cidadãos também já perceberam esta dinâmica e começaram a interiorizar a importância do conhecimento das reivindicações dos seus direitos e vão reivindicando os direitos”.
Em Huíla, a Associação Construindo Comunidades (ACC) e a Ação de Solidariedade e Desenvolvimento (ASD), atendem pelas comissões de promoção e proteção no Comité Provincial dos Direitos.
O chefe do departamento do Comité Provincial dos Direitos Humanos, afeto ao Ministério da Justiça, Edivaldo Salvador, reconhece o papel destas organizações não-governamentais junto das comunidades.
“Muitas vezes podemos não vê-las aqui na urbe, mas estão nos demais municípios a trabalhar. Vejo e temos conhecimento de algumas ONG que vão olhando para a questão das orientações pastorais sobre o tráfico de pessoas, conflitos de terras e acima de tudo a resolverem, dentro daquilo que são as suas competências, alguns problemas que afetam a coletividade, ou seja o próprio interesse público”.
A proposta de lei do Estatuto das Organizações Não-governamentais sugere a supervisão das suas actividades pelo Governo para, supostamente, garantir que elas "não possam ser usadas por organizações terroristas que se passem por entidades legítimas”.