Angola: Novo ano lectivo, velhos problemas

Encarregados de educação dizem que continuam a ter que comprar livros ao contrário das promessas do governo de material gratuito. Algumas escolas exigem ainda pagamento para matrículas

O novo ano lectivo iniciou-se em Angola com velhos problemas.

Tal como aconteceu no passado, o Governo promete material didático gratuito até à sexta classe mas muitos encarregados de educação dizem que isso não está a acontecer e alguns deles afirmam mesmo que lhes está a ser exigido pagamento para as matrículas.

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Novo ano escolar, velhos problemas – 2:33

Adão de Almeida, ministro cessante do Estado e Chefe da Casa Civil da Presidência da República dirigiu a cerimónia de abertura do ano lectivo 2022 na província do Bengo e garantiu que o seu Executivo colocou para este ano lectivo mais de 250 milhões de manuais escolares, para distribuição gratuita para alunos da primeira à sexta classe.

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O responsável assegurou ainda que 500 mil novos alunos entraram para o sistema de ensino e exortou as autoridades a agirem duramente contra aqueles que desviarem os manuais de entrega gratuita, para outros fins.

O Movimento de Estudantes Angolanos (MEA) pediu aos encarregados de educação para cerrarem fileiras na denúncia, caso os seus educandos não recebam os livros de forma gratuita.

"Pedimos aos encarregados de educação, para nos ajudarem na supervisão da distribuição dos materiais didácticos a não aceitarem pagar qualquer valor”, disse Francisco Teixeira, presidente da organização.

Francisco Teixeira, do Movimento de Estudantes Angolanos

“Caso as crianças voltem para casa sem os livros devem denunciar junto ao MEA ou a uma esquadra policial próxima", acrescentou Teixeira, para quem "a lei de base do ensino diz que da primeira à sexta classe a entrega de manuais escolar é gratuita não importa se os alunos são da escola pública, privada ou comparticipada. Até à sexta classe a responsabilidade dos livros é do Estado".

Pais e encarregados de educação disseram à VOA que as promessas de material didático gratuito não estão a ser respeitadas.

Uma mãe que se identificou apenas como Lúcia descreveu as promessas de “mentiras”.

“Eu tive de ir comprar livros ao mercado de São Paulo e estão caros, tivemos de gastar em material didáctico mais de 40 mil kwanzas”, afirmou.

“Quase todas as mães estão a recorrer ao mercado do São Paulo, elas só dizem que os livros são gratuitos mas no terreno não vemos nada disso", acrescentou.

Outro encarregado de educação Maznga Julio para além de se queixar dos livros reclama também do acesso às escolas públicas onde continuam a ser exigidos pagamentos, o que é contra a lei.

"Tudo isto que dizem aí é brincadeira, não existe material nenhum gratuito, eu tive de recorrer ao mercado paralelo para adquirir livros e estão caríssimos e ainda corro o risco de ficar com dois filhos fora do sistema porque para matricular pediram-me 50 mil kwanzas, para as duas crianças” disse.

“Eu ainda retorqui, mas se é uma escola pública, por que cobram? O que dizem ser gratuito é apenas no papel, na prática tens que pagar mesmo", concluiu.

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