O Presidente angolano mexeu na estrutura diretiva de órgãos de segurança do Estado como o Serviço de Investigação Criminal (SIC), o Serviço de Informação e Segurança do Estado (SIMSE), o Serviço de Migração e Estrangeiro (SEF) e o Corpo Especial de Segurança para Minerais Estratégicos (CESME).
Antigos militares falam em quebra de confiança ante muita falta de segurança e crimes em Angola, mas lamentam que o sistema não muda.
João Lourenço trocou o director do SIC, Antonio Paulo Bendje, por Luciano da Silva, João Antonio Dias foi exonerado do SME e para o seu lugar foi nomeado José Junior entre outras alterações.
Angelino Silva, antigo militar hoje na reserva, considera que essas mudanças representam uma quebra de confiança por parte de João Lourenço.
"Logo que vi a notícia destas exonerações, associei logo as últimas questões de contrabando de combustível e outras coisas mais, ver diretores nacionais de sitios chave de segurança que deviam velar pela segurança, suspeitas de envolvimento ou por negligência no serviço prestado ... logo o Presidente da República perdeu a confiança depositada", comenta Silva.
Quase na mesma linha de pensamento, o antigo militar e atual docente universitário José Correia aponta que "quando um chefe de segurança do Estado mete-se em negociatas, quebra-se a segurança, nós vemos hoje estrangeiros a assassinarem cidadãos nacionais e a desaparecem do nada, isto é segurança?".
Correia diz que "que fez bem o Presidente" porque "as mexidas se impunham nestes setores, só que ao mesmo tempo me surpreende que são as mesmas pessoas que saem e entram".
"Para mim a partir da Casa de Segurança do Presidente até cá pra baixo todo mundo está envolvido em negociatas, isto coloca em cheque a nossa segurança", conclui Correia.
O ex-militar questiona ainda algumas práticas de cidadãos estrangeiros no país aos quais nada acontece.
"Cidadão chinês, cidadão vietnamita chega num banco pra depositar 2 milhões de dólares, espanta até o gerente do banco, e é recebido como menino bonito quando nos outros países a policia estaria aí para investigar a proveniência deste dinheiro, onde é que está a segurança nacional?", pergunta o antigo militar que lamenta que "mudam-se as pessoas mas o sistema mantém-se".
Outro antigo militar das FAPLAS, Teixeira Domingos é de opinião que em Angola não há ameaças à segurança do país.
"Qual é o perigo à nossa segurança? Não temos, eu não vejo problema de segurança, todas estas açoes resumindo e concluindo visam um só objetivo a manutenção do poder e ponto final, nós não temos problemas de segurança na minha modesta opinião", diz Domingos.
Visão oposta tem outro antigo militar e antigo docente universitário Osvaldo Caholo, para quem há uma certa confusão quanto ao conceito de segurança nacional.
"Em Angola, não existe segurança nacional, não é possível haver segurança sem educação e sem alimentação, a segurança de que falam aqui é o de assegurar o Presidente da República, do vice-presidente da República, etc., agora o
pacato cidadão não tem os seus direitos fundamentais garantidos, se em Angola houvesse segurança nenhum estrangeiro vinha para cá violar direitos trabalhistas de nacionais", afirma Caholo.
Aquele antigo militar conclui que em "Angola são Serviços de Inteligência e Segurança do MPLA, por isso pra mim essas mexidas visam apenas o cumprimento da estratégia de manutenção do poder deste grupo que se confunde com o Estado".
Ao dar posse aos novos titulares dos órgãos de segurança nesta segunda-feira, 28, o Presidente reiterou que "a responsabilidade que recai sobre os vossos ombros é grande, pela delicadeza do trabalho que passam a exercer a partir de hoje e que tem um reflexo muito grande sobre a segurança do nosso país".
Na sua breve intervenção, João Lourenço acrescentou que "nós esperamos de vocês é total entrega" e enfatizou a necessidade de "melhorar aquilo que já vem sendo feito" nos Serviços de Investigação Criminal e aos Serviços de Migração e Estrangeiro.