A fraca valorização do livro, a deficiente promoção do hábito de leitura, assim como a baixa qualidade de produção literária em Angola devem-se ao colapso do sistema de educação do país que se verifica a todos os níveis, como fez saber o escritor e docente universitário Francisco Soares.
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O docente universitário e especialista em literatura lusófona, Francisco Soares, recua no tempo para lembrar que a literatura foi a principal promotora da democracia no período pós-independência em Angola, com o surgimento e a implementação de novos e novas formas e temas de abordagens, marcando assim uma maior liberdade temática na altura.
Para o escritor, em Angola “há muita gente a escrever pouco”, o que dificulta a definição de uma tendência geral. Soares entende, por outro lado, que muitos autores têm estado a evitar abordar questões candentes que se prendem com a actual realidade de Angola.
«Mas há outros que pegam nelas. Não pegam por militância, mas pegam esporadicamente. Falam disso como falam de amor, como flalam de outras coisas. Estes tópicos existem no meio de outros talvez por isso ficam meio diluídos e achamos que não estão a ser tratados», referiu.
Sobre a nova geração de escritores e a baixa qualidade da produção literária actual, Francisco Soares referiu que se deve em parte um colapso do sistema de ensino a todos os níveis, o que tem dificultado aqueles que queiram cultivar “a arte da expressão pela palavra”.
Apesar do fracasso do sistema de educação, Francisco Soares explica que ainda existem jovens que ultrapassam as barreiras e dispontam no mosaico cultural, estando a produzir textos literários de qualidade reconhecida.
O jornalista Rúbio Praia que recentemente colocou a disposição do público o livro de crónicas intitulado “Balumuka”, pensa que se deve refroçar o actual sistema de ensino para que no futuro tenhamos novos e bons cultores da escrita. Por outro lado, defende maior apoio aos fazedores de arte em geral e aos escritores em particular, para que estes trabalhem em sintonia com as escolas para melhoria do sistema de educaçãoqq.
«As escolas enfernam de vários problemas e há quem pensa que estas são questões secundárias. Quando assim se pensa envereda-se para um caminho menos positivo. Os estudantes têm mais distanciamento com aqueles que criam, há menor divulgação (dos livros) e deve-se trabalhar com muita profundidade, interesse e amor para se elevarem os jovens, os novos cultores e artistas angolanos», defendeu o jornalista e escritor Rúbio Praia.
A importância da promoção do livro e da leitura são duas preocupações fundamentais constantes do Plano Nacional de Desenvolvimento para o sector cultural, elaborado pelo Executivo angolano.
A valorização do livro é também um elemento preponderante para o acesso ao emprego e redução da criminalidade. Com o avanço das ciências da comunicação e das tecnologias de informação, a prática de leitura em Angola tem estado a ter cada vez menos aderentes, não apenas pelo alto custo dos livros, mas também, devido a sua pouca promoção e incentivo.
Para o jornalista e escritor, Rúbio Praia, a questão não se pode apenas olhar na perspectiva de que a juventude não está a ler. É preciso, segundo o autor do Balumuka, que os adultos incentivem os mais novos à prática da leitura e da pesquisa. Por outro lado, o escritor advoga que a escassez de leitores se deve a distância existente entre os autores e os seus leitores.
De acordo com o jornalista não existem espaços de partilha entre os cultores da literatura e os seus apreciadores, o que resulta em parte no fraco interesse pelo livro.
«Hoje o pai, o tio, o sobrinho, o filho quandom faz anos ele oferece um smartphone. A pessoa instala programas que fazem perder a vertente cultural», diz Rúbio para quem a oferta de um livro seria mais importante para estimular a criatividade.
«Em vez de oferecer um livro que desafia a pessoa, que não tem imagem, que leva a pessoa para outro mundo, viajando sem sair do lugar, não! Ele tem um mundo diferente, com imagens, vídeos, nem todos muito saudáveis e tem acesso ao mundo e está sujeito a ver coisas boas, por um lado e más por outro. Não é que os jovens leiam menos, é que os escriotres deviam estar mais próximos dos novos leitores», conclui.
Para melhorar o acesso aos livros e incentivar a leitura, a criação de mais bibliotecas públicas, espaços de lazer cultural e o baixo custo são elementos a serem considerados.
Por ocasião da abertura da 10ª edição da Feira Internacional do Livro e do Disco que teve lugar de 22 a 28 de Agosto em Luanda,Daniel Kabusso, Director Nacional das Indústrias Culturais lançou um repto as várias editoras, produtores, agentes culturais e livreiros para que estendam as suas acções em todo território nacional, porém à título de solidadriedade obejectiva.
Há precisamente 10 anos que a Arte Viva editora tem juntado num mesmo espaço, durante uma semana, livros e discos, conferências sobre diversos temas actuais, para além de escritores e músicosque partilham o mesmo lugar, criando assim uma oportunidade singular de interacção com o público.
Rúbio Praia entende que os escritores não devem considerar as livrarias como um cemitário onde são depositadas as obras e posteriormente esquecidas. O fraco intersse pelo livro, segundo o nosso interlocutor, está também ligado as propostas apresentadas pelos autores, que na sua óptica devem estar melhor direccionadas.