O presidente do Sindicato dos Médicos de Angola, dr. Adriano Manuel, disse não concordar que se tenham reiniciado as aulas em plena pandemia do coronavírus porque isso coloca em perigo não só os alunos, mas principalmente os seus pais e outro familiares adultos.
“Os meus filhos não vão à escola”, disse o médico para quem se deveria ter adotado um sistema para que os pais pudessem obter os conteúdos das lições das escolas que seriam depois usados em casa.
“O problema não é muito o contágio das crianças, mas sim os seus pais com problemas de saúde”, disse o dr. Adriano Manuel.
“A probabilidade de trazerem a doença para casa e a probabilidade dos pais poderem morrer é grande”, disse o médico e sindicalista que recordou que muitos pais podem sofrer de doenças que os tornam mais vulneráveis e também a presença de avós cujo risco de mortalidade da doença é substancialmente maior.
Your browser doesn’t support HTML5
As escolas, disse, não têm na sua maior parte condições de biossegurança para terem aulas.
Contudo o dr. Manuel disse que aqueles que vão às aulas – professores e alunos – devem organizar–se para estabelcer medidas de segurança.
Interrogado sobre os custos dos testes do coronavírus, o presidente do sindicato dos médicos disse que “deve haver comparticipação”.
“Não há sistema de saúde que sobreviva sem comparticipação”, disse e para isso “devemos estratificar quem deve pagar os testes”.
As pessoas com salário mínimo ou os pobres não devem pagar enquanto as pessoas com salários altos devem pagar uma comparticipação, acrescentou.
O dr. Adriano Manuel disse que embora possa haver alguma discrepância entre as estatísticas oficiais e a realidade dos números de casos de coronavírus “não parece haver grande diferença”.
Your browser doesn’t support HTML5
O presidente do Sindicato dos Médicos concordou com um ouvinte que disse ser um desperdício de recursos nomear-se médicos para directores de hospitais ou postos ministeriais.
“Para ser director de um hospital não é preciso ser médico e portanto deve-se entregar a gestão a quem tem formação na área de gestão”, disse ressalvando que dentro do hospital há claro estas áreas como a de diretor clínico ou pedagógico que têm que ser ocupados por médicos.
“O país tem falta de cardiologistas e temos uma ministra da saúde que é cardiologista e temos um secretário de estado para a área hospitalar que é um grande cirurgião e faria melhor trabalho formando quadros no hospital”, acrescentou.
O dr. Adriano Manuel defendeu uma reforma do sistema de saúde de Angola que passe por investimentos num sistema de saúde primário.
Angola tem investido num sistema curativo quando deveria concentrar-se na saúde primária que é essencialmente preventiva “pois entre 80 a 90% das doenças do nosso país são preventivas”, disse.
O dirigente do Sindicato dos Médicos reafirmou que é intenção do sindicato ir a tribunal para se esclarecer o caso da morte do dr. Silvio Dala que morreu numa esquadra da polícia.
O dr. Manuel disse que a observação do corpo do dr. Dala que apresentava feridas “profundas no couro cabeludo com extravazamento de muito sangue” contradizem as afirmações da polícia que teria sofrido escoriações após ter sofrido um ataque cardíaco e caído no solo da esquadra.
Adriano Manuel reafirmou por outro lado não haver dúvidas de que a dra. Elisa Gaspar foi destituída da Ordem dos Médicos apesar de afirmações em contrário, tendo sido criada uma comissão de trabalho que vai administrar a Ordem durante três meses antes da realização de um pleito eleitoral para eleger uma nova direção.