Angola Fala Só: Bilhete de Identidade Miguel Francisco "Michel"

Miguel Francisco "Michel", sobrevivente do 27 de Maio de 1977, Angola

Esta semana o Angola Fala Só será alusivo ao 27 de Maio, trazendo Miguel Francisco à conversa. É advogado, mas acima de tudo um sobrevivente do "Vinte e sete".
A poucos dias do 27 de Maio, uma data que marca um período conturbado e de medo em Angola, convidámos Miguel Francisco, mais conhecido por Michel, para o "Angola Fala Só" desta Sexta-feira, 23.
Designados por fraccionistas, os apoiantes das ideias de Nito Alves foram mortos ou presos sem julgamento durante anos, como foi o caso de Michel.
A experiência de três anos de cadeia desterrado, a "sofrer horrores", inspirou-o para escrever "Nuvem Negra", relatos do que passou na prisão do Moxico por ser apoiante de Nito Alves.
Filho de um pai que nunca conheceu, morto por questões políticas em ' 71, Michel não hesita em afirmar que comungava e ainda comunga dos ideais de Nito Alves, mas nega ter participado no golpe.

Nome: Miguel Francisco
Profissão: Advogado

Data de Nascimento: 26 de Setembro Maio de 1955
Signo: Balança

Estado Civil: Casado
Filhos: 3

Local de Nascimento: Kibala - Kwanza Sul no Nussaleo

Destino em Angola: Lunda Norte porque viveu durante alguns anos na antiga localidade de Andrada, cidade dos diamantes, e onde interiorizou muitos costumes dos Tchokwé.

Lema de vida: Estudar, viver para a família e para os amigos

Curiosidades: Diz-se extremamente sensível e solidário, partilha a sua vida com os outros, o que às vezes torna-se um defeito. Também gosta muito de dançar e divertir-se.

Detenções: Foi detido a 7 de Junho de 1977, após o 27 de Maio.
Foi preso em Luanda nos Dragões, onde tinha a sua brigada, e desterrado para o Moxico, onde afirma ter vivido os piores horrores da sua vida, que deram origem ao seu primeiro livro "Nuvem Negra", a primeira versão em livro que diferia da versão oficial do Governo. Orgulha-se de ter sido o primeiro angolano a fazê-lo.
Foi solto a 5 de Julho de 1980, após a morte de Agostinho Neto.
Apesar de não alinhar com a governação de José Eduardo dos Santos diz que foi "graças ao Presidente que foi libertado", ao instituir que todos os presos do "Vinte e sete" fossem libertados.

Onde estava no 11 de Novembro de 1975?
Tinha 19 anos quando se deu o 25 de Abril de 1974 e entrei para as FAPLA no dia 16 de Novembro de 1974. Alistei-me no exército porque tinha uma vontade uma vontade imensa de contribuir para a liberdade do nosso país. Mesmo tendo lutado por pouco tempo, sinto-me parte da luta pela independência do nosso país.
Em 1975 já estava em Luanda, a minha unidade ficava na avenida Ho Chi Minh e nesse dia estava no Largo 1º de Maio e ouvi a proclamação da independência.
Senti uma satisfação indescritível, alegria sem igual.

Livros:
Nuvem Negra - relatos dos três anos preso no Moxico
A Reflexão - razões na base do 27 de Maio
A Chaga - romance sobre a não discussão, não reconciliação do MPLA com o povo no que toca ao 27 de Maio