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O Presidente João Lourenço demonstrou até agora “alguma coragem,” mas isso não teve ainda reflexos nos cidadãos, disse o politólogo angolano Bettencourt Salakiaku.
Ao participar no programa “Angola Fala Só”, Salakiaku respondeu a perguntas de ouvintes e internautas sobre diversas questões políticas angolanas.
O porta-voz da ala juvenil da UNITA, JURA, escolheu vir ao programa não nessa posição, mas sim como analista político, e fez notar que Angola tem um sistema político de “presidencialismo parlamentar” em que o Presidente é escolhido de uma lista do maior partido no Parlamento pelo que não há mudanças nas linhas de orientação do Governo.
“O MPLA continua a ser o mesmo, as linhas de orientação do Governo continuam a ser as mesmas”, disse, mas manifestou a esperança de que o Presidente use a coragem demonstrada até agora para levar a cabo o combate à corrupção.
Escola de estalinismo
Interrogado sobre uma maior abertura que se regista em permitir a realização de manifestações, aquele analista considerou haver uma política “para inglês ver,” que não está a ser aplicada em todo o país, registando-se apenas em algumas cidades.
“Noutras partes do país continuam as perseguições”, disse acrescentando que tanto José Eduardo dos Santos como João Lourenço “pertencem à mesma escola do estalinismo”.
As aberturas até agora aplicadas devem-se “à necessidade de sobrevivência”.
As manifestações, continuou, indicam haver uma maior consciencialização da sociedade sobre os seus direitos pois se inicialmente eram organizadas “pelos jovens revolucionários” hoje há sindicatos dos mais diversos sectores a organizarem manifestações pelos seus direitos.
“O nível de consciencialização já não está só nos "frustrados”, acrescentou em referência a uma declaração de José Eduardo dos Santos que atribuiu as manifestações durante o seu mandato a jovens frustrados por não terem tido sucesso académico e profissional.
“Vamos ver se o Governo consegue lidar com este movimento social”, alertou.
Bettencourt Salakiaku criticou asperamente a política de repatriamento de capitais levados ilegalmente para fora do país e ao abrigo da qual esses capitais continuarão a ser controlados pelas pessoas que os detinham sem qualquer consequência.
“O MPLA mantém o velho hábito de proteger os marginais”, sublinhou Bettencourt Salakiaku que abordou a questão das eleições autárquicas rejeitando a proposta do governo de gradualismo geográfico.
Para aquele analista, a seguir-se o gradualismo geográfico talvez fosse melhor começar pelas zonas que se julga não terem capacidade de arrecadar finanças ou de administração.
A democracia, disse, “implica custos” e esses custos podem ser o financiamento de zonas que não têm capacidade para arrecadar receitas.
Durante o programa Salakiaku afirmou que a UNITA tem a capacidade de concorrer em todas as autarquias do pais e recordou que durante a guerra civil o partido administrou várias zonas do país.
Salakiaku acrescentou que o partido quer que na lista da candidatos haja pessoal que não pertença à UNITA e que sejam independentes, embora sob orientação das linhas gerais de governação do partido,
“Não se dirige um país com quadros do partido, dirige se com quadros da nação”, afirmou.
Quando um ouvinte comentou quase no final do programa que João Lourenço “deve ter muito cuidado com José Eduardo dos Santos”, Bettencourt Salakiaku respondeu ser "uma advertência salutar”.