Mel Gamboa é peremptória e clara nas palavras, o problema de Angola é de base e só pode ser resolvido se a igualdade de direitos, de género for respeitada dentro de casa.
Mel, que falava ao Angola Fala Só, desta Sexta-feira, 30 de Outubro, defendeu uma mudança em Angola mas através do diálogo, assumindo que "as pessoas precisam umas das outras", pois os próprios políticos independentemente das suas cores partidárias têm que conviver entre si.
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Sobre o seu activismo clarifica que apesar de tudo acabar por ir ao encontro da política não é esse o seu foco: "Sou sim activista mas não política eu convivo com as pessoas que acham que o dialogo é a melhor forma de resolver os problemas", lembrando ainda que "estamos todos no mesmo barco, se houver um conflito bélico sofremos todos".
A actriz e activista feminista explicou também que "ser feminista não é um adjectivo, o movimento feminista é um processo que tem vindo a mudar, tem passado por etapas com o objectivo de ver o progresso da mulher".
"A feminista é vista como louca, incómoda, é uma forma de coacçao para que as mulheres se calem. Nós vivemos numa sociedade machista e patriarcal por defeito (...) e as mulheres continuam a viver insegurança nas suas proprias casas (...) vivemos numa sociedade machista, sexista, misógina", continuou Mel.
Questionada sobre a prisão dos activistas a activista afirma que não gostaria de estar no lugar deles, "de estar presa nessas circunstâncias", acrescentando também no decorrer do debate com os ouvintes que espera que o Presidente da República cumpra com as suas funções e que pressupõe, pelo seu discurso, que Angola tem os três poderes divididos.
Sou pessoa non grata por dizer o que penso honestamente, por isso chamem-me o que quiserem
A activista comenta ainda que aos cidadãos não é possível saber o que se passa de facto na política angolana: "Como cidadãos estamos no total obscurantismo (...) o que pedimos é coerência, honestidade politíca e senso de equilibrio".
"Há muita coisa errada, numa casa onde não há pão, todos gritam e ninguém tem razão", citou lembrando que "o problema é que as ideologias não se permitem à evolução".
À conversa com os ouvintes e questionada se não teme pela sua vida, a activista feminista responde: "Temo pela minha vida, porque sou ameaçada diariamente, sou assediada pessoal e profissionalmente e claro que temo pela vida de todo e cada um que levanta a voz e diz que é preciso diálogo para mudar o país".
Apologista de reivindicações não violentas, a convidada do Angola Fala Só destaca que "egos frágeis precisam de ser protegidos a todo o custo, porque por norma são esses que se tornam violentos", respondendo à questão se para que Angola seja democrática será preciso ou não recorrer à violência. Mas Mel lembra ainda que não há coerência de discurso político em Angola.
As pessoas que defendem direitos humanos são as mesmas que dizem que o lugar da mulher é em casa a cuidar dos filhos, do marido e a cozinhar
À pergunta por que motivo as mulheres não participam mais na vida política do país, Mel recordou à audiência que "as mulheres estão condicionadas a exercer muitas funções, a ter êxito em todos os patamares da sua vida, a cuidar dos filhos, da casa, a serem boas esposas, boas profissionais e ninguém pára para pensar em tudo isso", "Qual é o tempo que ela tem para ser activista política?", questiona.
"Quantos activistas conheço que consideram que em casa é o lugar da mulher? Quantas mulheres têm que optar por casar para poder ter segurança? E quantas não casadas e sem filhos são assediadas e lhes dizem que precisam é de homem e ganhar juízo?", continua.
"É preciso ter muito estômago para ouvir esse tipo de acusações", diz Mel Gamboa, assumindo que não é favor de qualquer partido feminino e reiterando que é preciso que os homens comecem a respeitar as mulheres, as mães, as filhas, dentro de casa, referindo entre outros exemplos o facto de muitos homens terem múltiplas famílias e vários filhos.
Naturalmente, diz Mel, ela tem que ter medo "por tudo e por nada", e sobre os rumores de relações que possa ter tido para subir profissionalmente, como foi sugerido por alguma media angolana, a actriz conclui: "Sou pessoa non grata por dizer o que penso honestamente, eu sou igual às outras, por isso chamem-me o que quiserem. A sociedade encurrala literalmente a mulher, as mulheres são vítimas de violência emocional e física".