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O facto de a oposição angolana falar da possibilidade de uma fraude eleitoral não significa que isso seja o reconhecimento de que vai perder as eleições e uma desculpa para essa derrota, disse Vitorino Nhany, secretário dos Assuntos Eleitorais da UNITA e membro do Comité Permanente da Comissão Policia deste partido.
“Gato escaldado até da água fria tem medo”, afirmou Nhany para quem o país teve três eleições “marcadamente fraudulentas”.
Nhany falava na edição desta sexta-feira, 14, do programa Angola Fala Só, juntamente com David Kissadila, membro do Conselho Presidencial da CASA CE.
O secretário para os Assuntos Eleitorais da UNITA disse que um dos processos usados pelo Governo para a fraude eleitoral foi a “obstrução do voto”, alterando o local de voto de eleitores quando o caderno eleitoral só é publicado no dia da votação.
Nhany disse que esse estratagema terá resultado em mais de dois milhões de “abstenções”, que “se deveram ao que se chama obstrução de voto”, disse Nhany.
Tanto o representante da UNITA como o da CASA-CE manifestaram dúvidas quanto ao processo do registo eleitoral que dizem ter sido usurpado pelo Ministério da Administração do Território.
David Kissadila fez notar que em muitos locais as brigadas de recenseamento não coordenam as suas actividades com os delegados dos partidos, impedindo assim que estes acompanhem o processo.
Kissadila disse que, de acordo com as estimativas do seu partido, os números divulgados pelo Governo sobre o andamento do registo eleitoral estão “aquém da realidade”.
O representante da CASA CE revelou que os 2,5 milhões de eleitores já registados, segundo o Governo, revela “uma certa lentidão” e isso vai requerer “uma dinâmica maior para se poder atingir números satisfatórios tendo em conta os prazos existentes”.
Já Vitorino Nhany disse que, embora inicialmente o número de registos tenha sido muito pouco (cerca de 20.000 por dia), os registos têm vindo a aumentar para 60.000 novos eleitores por dia.
Num universo calculado de 9,8 milhões de eleitores “talvez seja possível” alcançar esse número, admitiu o representante da UNITA que alertou para um projecto de lei do Governo que visa alterar a lei eleitoral em ano de eleições e que introduz novos aspectos à lei, incluindo o voto antecipado para membros das forças de segurança.
“Quem é que garante que não votar de novo no dia das eleições?”, interrogou Vitorino Nhany.
O projecto de lei introduz também o “voto por correspondência” e a apresentação do Bilhete de Identidade ou do passaporte como documentos suficientes para se votar, deixando de ser necessário o cartão eleitoral, disse Vitorino Nhany.
O representante da CASA-CE afirmou que “a oposição deve estar coesa e unida para poder ter uma voz e poder agir” na fiscalização do registo eleitoral e das eleições.
“Tem que haver uma fiscalização conjunta”, disse fazendo notar que nem todas regiões estão a ser fiscalizadas pela CNE.
Um ouvinte quis saber se a oposição não estaria a exagerar ao falar de fraude quando poderiam tratar apenas de irregularidades.
"Quando as irregularidades são intencionais são fraude", respondeu Vitorino Nhany, enquanto David Kissadila afirmou ficar sempre surpreendido quando observadores internacionais dizem ter registado “irregularidades” mas acabam por considerar eleições como justas.
Kissadila defendeu que as Nações Unidas deveriam criar um mecanismo para controlar e verificar eleições.