Angola Fala Só - Abel Chivukuvuku: "Não fazer eleições autárquicas é violar a constituição"

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Abel Chivukuvuku

Em 2017 haverá mudança de poder.

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12 Set 2014 AFS Abel Chivukuvuku

O Governo do MPLA admitiu ser incompetente ao afirmar não ter condições para realizar as eleições autárquicas, disse o presidente da Casa-CE Abel Chivukuvuku esta sexta-feira, 12, no programa Angola Fala Só da VOA.

O dirigente da terceira maior força partidária de Angola afirmou ainda que “não fazer as eleições autarquicas é violar a constituição”.

“Os governantes dizem que são incompetentes quando dizem que não têm condições para organizar as eleições autárquicas”, disse Chivukuvuku.

“Se são incompetentes então não deviam governar”, acrescentou, recordando que países como Moçambique, São Tomé e Príncipe e República Democrática do Congo já organizaram eleições autárquicas.

Para o dirigente da Casa- CE, a não realização das autárquicas deve-se à certeza de que a oposição iria obter uma vitória esmagadora nessas eleições.

Interrogado por um ouvinte sobre o adiamento do julgamento dos alegados assassinos dos activistas Alves Kamulingue e Isaías Cassule, devido à promoção de um dos acusados a general, Chivukuvuku respondeu que “quem é acusado de um crime não deve ser promovido”.

Adiantou ainda que a Casa-CE quer que o general em causa seja agora levado ao Tribunal Militar para julgamento. “Todos os culpados devem ser levados à justiça”, afirmou.

Questionado por outro ouvinte sobre o que aconteceria ao presidente José Eduardo dos Santos caso a oposição vencesse as eleições, o líder da CASA CE disse que, embora o presidente seja um adversário político com agendas diferentes da oposição, ele é “o nosso presidente”.

“Amanhã não vai ser presidente, mas será respeitado como antigo presidente”, disse Chivukuvuku.

“A alternância do poder político deve ser pacífica, ordeira e serena”, acrescentou afirmando que todos aqueles que deixam de exercer cargos de governação devem continuar a fazer parte do jogo político.

Abel Chivukuvuku disse ainda no programa que a governação do MPLA é marcada por uma falta de ligação com a realidade no terreno.“Se ficarmos nos palácios sem ligação dificilmente teremos ideias das expectativas e preocupações das pessoas”, exemplificou.

O poder em Angola, disse, está “centralizado numa só pessoa, o presidente da República que nos últimos tempos tem sido alvo de uma campanha de “deificação e endeusamento” em que tudo que é feito deve-se ao presidente

Outro problema é o facto de o Governo dar postos de administração a militantes e não àqueles que são competentes para exercerem essas funções.

Todos os dirigentes nos mais de 160 municípios do país são também secretários locais do MPL, disse Abel Chivukuvuku.“Por isso não têm a noção do que é ser governante”, acrescentou, lembrando que em muitas viagens que tem feito pelo interior de Angola muitos administradores não têm noção do que é governar.

“Governar é resolver problemas”, acrescentou o líder da Casa-CE, segundo o qual deve-se garantir um sistema de “meritocracia”, havendo também a necessidade de se garantir “o primado da lei” e uma economia de mercado verdadeiramente livre em que o estado também participa.

Neste momento, disse, “a clique no poder controla totalmente a economia”.

Aquele responsável político disse que vai prosseguir com o programa aprovado pelo partido em que todos os meses passa 15 dias em Luanda e 15 dias a viajar pelas diferentes províncias de Angola.

Foi dentro desse programa partidário que se deslocou recentemente ao Namibe, viagem que causou alguma celeuma.

Abel Chivukuvuku confirmou anteriores acusações do seu partido que autoridades locais tinham dado ordens para estações de gasolina não fornecerem combustível aos veículos da sua delegação e às pensões para se recusarem a fornecer quartos à sua comitiva.

Mais tarde o MPLA organizou uma manifestação na capital provincial para criticar a visita e o governador Rui Falcão numa outra subsequente ocasião apelidou Abel Chivukuvuku de “papagaio político” que deve a sua vida ao Presidente Eduardo dos Santos.

Chivukuvuku disse que as declarações do governador são “extremamente vergonhosas e tristes”, reflexo “do estado de espírito do MPLA” e também porque a Casa-CE é agora “uma força política” de peso.

Em referência ao ano das eleições gerais, estimou que em 2017 vai haver “uma viragem”.

“É isso que cria apreensão (no MPLA) ”, disse o líder da Casa-Ce para quem são “preocupantes” as declarações de Rui Falcão de que os dirigentes políticos da oposição só estão vivos porque o presidente José Eduardo dos Santos se opôs a que fossem mortos.

Segundo Chivukuvuku, este é um sinal de que “existem ainda instintos primários” entre muitos dirigentes do MPLA.