A seca e a fome que assolam o sul de Angola têm levado a várias acções de instituições privadas e religiosas, que tentam combater as dificuldades que se vivem nas regiões do Cunene, Huíla, Namibe e Cuando Cubango.
Segundo o governador do Cunene, Virgílio Tyova, ao Jornal de Angola, a seca no Cunene atinge 178 mil famílias, num total de 857 mil pessoas. Mais de quatro crianças com menos de cinco anos de idade morrem em Angola todos os dias de fome, revelam estatísticas do Programa nacional de Nutrição do Ministério da Saúde.
O Angola Fala Só desta sexta-feira, 23 de Agosto, teve por isso como convidado o padre Gaudêncio Felix Yakuleinge, Associação Ame Naame Omunu - ANO, que descreveu um cenário de desespero no Cunene e deixou fortes críticas à governação local e nacional.
O padre Gaudêncio diz que este ano no Cunene está a chover muito menos e consequentemente não há comida, não há água, o gado morre.
No que toca acção do governo perante esta situação, padre Gaudêncio questiona por que motivo as ajudas governamentais não estão a fazer efeito: Sobre "os valores que o governo anunciou, ainda se fez sentir o seu efeito. Até à data nenhum furo foi construído".
Com efeito, após a visita do Presidente João Lourenço ao Namibe e ao Cunene, em Maio, Lourenço orientou que se construa um sistema de transferência de água do rio Cunene, que partirá da localidade de Cafu até Shana, nas áreas de Cuamato e Namacunde.
O Governo havia aprovado entretanto em Abril um pacote financeiro fixado em 200 milhões de dólares para apoio a essas províncias, incluindo a construção de uma barragem. Mas segundo o padre Gaudência não há ainda nenhum projecto no horizonte.
Para os ouvintes, internautas e convidado, o que se está a passar no sul de Angola "não é um fenómeno novo" e todos concordam que é preciso declarar estado de emergência.
É bem estranho para nós que se esteja a assistir às pessoas a morrerem de fome (...) pouco a poucoPe. Gaudêncio
Além disso, os ouvintes que participaram no Angola Fala Só chamaram a atenção para o uso do erário público "em coisas luxuosas, enquanto o pobre sofre".
"É bem estranho para nós que se esteja a assistir às pessoas a morrerem de fome, não morrendo de forma física, mas indo morrendo, pouco a pouco".
Para ouvintes como João Matos, que ligou a partir da Holanda, o povo do sul manifestar-se incessantemente, dando como exemplo o povo de Hong Kong ou do Sudão.
Falta falta de amor ao próximo, falta de vontade política
Por outro lado, os ouvintes também questionaram por que razão a Namíbia, que tem um território igualmente desértico não passa pelo mesmo problema que Angola, ao que Pe. Gaudêncio respondeu que não só o povo tem medo de se manifestar, mas que também é preciso "pedir ajuda à Namíbia" e implementar "projectos viáveis e sustentáveis".
"Se nos cofres de Estado não houver dinheiro, porquê que não decretam estado de emergência?", questiona Pe. Gaudêncio.
Para o sacerdote, não ter sido declarado ainda o estado de emergência é sinal de que falta vontade de resolver o problema: "Isto revela falta de amor e falta de consideração".
Gaudêncio deixou ainda claro que as ajudas que têm chegado às vítimas da seca e da fome não vêm do governo, mas de organizações privadas e apelou aos partidos da oposição que saiam de Luanda e pediu mais criatividade à sociedade civil.
"De facto nós temos um problema em Angola, é que quando chegam o momento das eleições só se pode candidatar alguém que esteja afecto a um partido político e nesse sentido há necessidade de facto de se rever a Constituição para que haja a possibilidade de candidatos independentes (...) que trabalhem só para o bem do povo".
"É verdade que às vezes temos a sensação que governo não está a lutar contra a pobreza, mas contra os pobres", concluiu Pe. Gaudêncio.
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