Antigos efectivos da Casa Militar da Presidência de Angola na província do Cuando Cubango saem às ruas de Menongue, a cidade capital, neste sábado, 24, numa manifestação pacífica para exigir a sua reintegração e pagamentos de salários, indiferentes a ameaças de mortes atribuídas ao Comando Provincial da Polícia Nacional.
Numa província com tentáculos do escândalo financeiro que abalou a Casa Militar do Presidente João Lourenço, na chamada operação “Caranguejo”, ex-militares falam em despedimentos ilegais após 18 anos de serviço e alertam para dificuldades de sobrevivência decorrentes de dois anos sem salários.
A três dias da manifestação, a Polícia e o Governo Provincial optam por não reagir às denúncias, que abarcam ainda ameaças de capturas dos organizadores.
Em defesa de 3 mil homens, a Comissão Representativa dos Efectivos da Casa Militar no Cuando Cubango tentou abordar o assunto com o Presidente da República, que recentemente esteve na província, mas não foi possível, uma que vez, segundo o seu coordenador, os culpados pela situação actual tudo fizeram para impedir.
Adelino Daniel Pessela diz que já não há margem para diálogo e salienta que a manifestação, para a qual estão definidas as palavras de ordem, é o caminho a seguir.
“Queremos o nosso emprego agora, sem discriminação de origem política ou tribal, queremos os nossos salários porque em 2021 e 2022 ainda fizemos parte do Orçamento Geral do Estado. Notámos que foram enquadradas outras pessoas, por isso pedimos um inquérito ou ainda um recadastramento”, resume.
Depois de uma carta endereçada às autoridades, os organizadores foram ao encontro do Comando Provincial da Polícia, a pedido do comandante local, pensando numa concertação relativa a questões de segurança.
Entretanto, Daniel Pessoal revela que, contra todas as expectativas, a delegação da Comissão Representativa ouviu ameaças de morte.
“O espanto foi ter ouvido o comandante dizer palavras graves, como ‘a vossa manifestação não vai sair, nós ou todos os órgãos de defesa e segurança vão reagir , vocês são militares e não podem se manifestar. Se acontecer, saibam que vamos matar, o vosso chefe já tem mandato de captura, então vocês não experimentem’. Tudo isso nos indignou", ressalta o coordenador.
Contactado pela VOA, o comandante provincial da Polícia no Cuando Cubango, sub-comissário José Alberto Tchinhama, disse apenas que o assunto está a ser tratado pelo Governo.
Por isso, o contacto a seguir foi com o governador provincial, José Martins, que preferiu não prestar declarações, chegando mesmo a insinuar que estávamos a funcionar como advogados dos ex-militares.
Dados disponíveis apontam para o falecimento de cerca de 50 efectivos entre 2021 e 2023.