O Ministério da Relações Exteriores de Angola apelou à Russia para estabelecer um cessar-fogo definitivo na Ucrânia, mas não fez qualquer menção à condenação anterior da anexação de território ucraniano, por Luanda, afirmando manter uma posição de “equidistância” sobre o conflito.
A declaração tornada pública nesta quarta-feira, 25, foi emitida na segunda-feira, 23, véspera da chegada do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, em Luanda, onde manteve já conversações com o Presidente João Lourenço.
Veja Também Lavrov responsabiliza EUA e aliados pela situação na Ucrânia e Tete António pede fim da guerraA declaração angolana considera a guerra na Ucrânia como “uma séria ameaça à paz e segurança internacionais, tendo causado graves consequências económicas mundiais conducentes ao ressurgimento de uma nova dualidade ideológica no mundo”.
“Angola mantém a sua posição de princípio, reiterando o seu apelo pela cessação incondicional das hostilidades pelos beligerantes, priorizando a via pacífica para a resolução desta crise”, diz o comunicado que sublinha que Angola e Rússia “mantêm fortes laços de amizade que sustentam uma relação de cooperação estreita, dinâmica e multiforme e a todos os níveis”.
“Assim sendo, como bases nesses elementos que nos colocam fundamentalmente numa posição de equidistância, encorajamos as autoridades russas a dar mais chance ao resgate do merecido estatuto e prestígio da Rússia perante a história, estabelecendo um cessar-fogo definitivo, enquanto condição indispensável para a construção de uma paz sólida e duradoira neste conflito”, acrescenta.
A declaração não faz, contudo, qualquer menção ao facto de em Outubro Angola ter votado por uma resolução da ONU que condenou a anexação pela Rússia de quatro regiões da Ucrânia, depois de anteriormente se ter abstido de votar numa resolução condenando a invasão russa.
Em Dezembro quando esteve em Washington o presidente o presidente João Lourenço declarou à Voz da América que “se nós lutámos contra os invasores entendemos que todos os outros povos estão no mesmo direito de o fazer”.
João Lourenço recordou o apoio da então União Soviética para Angola repelir uma invasão sul-africana e acfescentou:
“Não entendemos como quem nos ajudou na altura a fazer isso, hoje tenha anexado quatro regiões do paíz vizinho.”
O voto na ONU e esta declaração foram interpretados na altura foi na altura como uma viragem na política externa angolana mas isso foi agora ignorado pelo próprio ministro dos Negócios estrangeiros russo Sergey Lavrov que, após as conversações com João Lourenço, elogiou a “posição equilibrada” de Angola nas Nações Unidas sobre decisões, “que dividem a comunidade internacional, nomeadamente as resoluções relativas ao conflito na Ucrânia".
Lavrov disse ter havido um “ diálogo muito prolongado e consistente” com o Presidente, com quem discutiu em detalhe as relações bilaterais, notando a intenção recíproca de as desenvolver em vários domínios
O chefe da diplomacia russa e o Presidente angolano falaram “bastante” sobre a situação actual e “sobre o apoio do Ocidente às práticas na Ucrânia de imposição do nazismo e da guerra híbrida que é desenvolvida contra o nosso país”, Lavrov, que, segundo ele "apresentámos os nossos pontos de vista baseados nos nossos contactos que provam a pressão sem precedentes sobre os países em vias de desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, nesse sentido”.
Antes, Lavrov reuniu-se com o seu homólogo angolano Tete António.