Vários analistas angolanos consideram que o país vive uma crise a todos os níveis.
As famílias estão cada vez mais sem capacidade de sobrevivência devido aos apertos financeiros.
O país registou no início do mês em curso a subida do preço do litro da gasolina e, consequentemente, o aumento dos preços dos bens essenciais no mercado.
Aliado a esta realidade, acrescenta-se a desvalorização da moeda nacional face às moedas estrangeiras.
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A situação social precária a que milhares de angolanos estão votados forçou a realização de um acto público de protesto a 17 de Junho.
A manifestação que se previa pacífica foi reprimida pelas forças de segurança e da ordem que detiveram diversos cidadãos.
Mwata Sebastião, secretário geral do Bloco Democrático, fala em tentativa de precarizar a participação colectiva como um direito legal.
"O que está a ocorrer aqui é a tentativa de precarizar a participação colectiva. Pois, já num passado recente categorizaram os tipos de manifestações, tentando trazer ara compreensão pública, e aqui é com alguma vergonha, através da media pública, através de um jornalismo que tem sido mais agressivo que um revolver, apelidando a um cidadão normal consciente dos seus direitos e deveres, de arruaceiro", diz Sebastião, para quem isto se reveste numa tentativa de “diabolização das lutas”.
Carlos Conceição, sociólogo, entende que o Estado deve salvaguardar o bem maior de uma sociedade: a vida.
"Para se ter vida as pessoas devem se alimentar, as pessoas têm de ter todas as condições que gravitam em torno do bem-estar social, económico, financeiro e até a integridade espiritual, emocional, mental e psicológica das famílias. Com estas situações não se está a ajudar mentalmente os angolanos", refere Conceição, para quem as estruturas com a função de fiscalizar a subida ilegal dos preços devem funcionar.
O desemprego está a atingir níveis elevados, ao mesmo tempo que as políticas do Governo para potenciar o empreendedorismo e o investimento privado não contemplam a maioria interessada.
A prioridade é dada às iniciativas ligadas aos empresários ligados ao partido no poder, afirma Fernando Guelengue, secretário executivo da Associação Científica Angola (ACA) e autor do livro “Pobreza: o epicentro da exploração de menores em Angola”.
Ele aponta, por exemplo, que o sector empresarial vive uma crise com dificuldades de obtenção de créditos para facilitação de negócios.
A precariedade da vida social e económica do país não escolhe o espaço geográfico territorial.
O jurista Elias Catito, por seu lado, refere que a pobreza que grassa as famílias em Luanda pode ser mais gravosa no interior do país, por isso apela à criação de políticas de isenção fiscal para o investimento sobretudo nas zonas recônditas.
"Se em Luanda é assim, imagina no interior. O Governo precisa olhar para os municípios para trair os cidadãos. É preciso que o governo crie políticas de benefícios fiscais e de isenção fiscal» para motivar o investimento em diversos municípios. Este investimento privado vai ajudar no desenvolvimento a vários níveis", sustenta Catito.
A situação social “apertada” vivida pelas famílias angolanas, agravada pelo desemprego juvenil, baixos salários, subida dos preços dos bens de primeira necessidade e, como se não bastasse, do atraso dos salários da função pública que se vem verificando nos os últimos meses, assim como a repressão das autoridades contra as reivindicações públicas e pacíficas realizadas por cidadãos desarmados que se posicionam publicamente contra as más condições de vida da maioria, revela a má qualidade da acção governativa, no entender de Mwata Sebastião.
"O país precisa avançar e desenvolver a todos os níveis, incluindo no terceiro sector no âmbito dos direitos", diz o activista cívico José Miranda para quem o Governo não pode ver os cidadãos como inimigos e por falta de empoderamento económico da população polícia a matar zungueiras.
"Em vez de se combater a pobreza, combate-se o pobre. Nós queremos que no âmbito dos direitos humanos também haja avanço. Queremos apenas ajudar angolana a avançar, pois não temos outro país além deste", conclui Miranda.
Ouça o debate.